“Ele converterá o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais”.
Eu odeio meu pai! Ele bateu no meu rosto! Dizia o moço com dor e ira.
Com dezenove anos, era como se a dor há dez, ardesse em sua face, enquanto despejava sua amargura diante da mãe.
Sou pai de três filhos, todos homens entre trinta e cinco e quarenta anos, somos uma família feliz! Nos amamos, nos respeitamos e resolvemos nossas diferenças de forma cristã.
Nem sempre foi assim, no período da adolescência, perdi um deles para o álcool e as drogas. Foi um tempo muito triste em nossas vidas. De doze anos sem café e almoço à mesa, sem sorrisos,  abraços e sem noites sossegadas. Tínhamos medo, insegurança, ira, amargura, tristeza, coisas roubadas, dinheiro sumindo e um pressentimento de que a morte rondava nossas vidas. Deixamos de viver como família.
“Como isto poderia acontecer dentro da minha casa?” Buscava resposta nas diversas áreas da minha vida e de alguma forma sempre me via justificado: trabalhador, correto nos negócios, pastor evangélico e comprometido no casamento. Não percebia nada que pudesse ter gerado tamanha crise. Bete (minha esposa) e eu, participamos de um congresso e fomos orientados a orar, pedindo a Deus que nos ajudasse a encontrar a “porta” por onde a droga entrou na vida do nosso filho. Todos nós sofríamos, anos de oração e mesmo dopado, um dia a dor foi expressa diante da mãe: “Meu pai me bateu no rosto, em frente aos meus amigos. Ele me humilhou! Eu o odeio. ”
Pedi e Deus mostrou a porta onde o mal nos atingiu. A ira com uma questão alheia ao filho, fez de uma pequena transgressão, um para-raios de minha ira. Sem perceber afastei de mim o coração do meu filho. A razão que eu buscava nele estava posta diante mim.
Era um tempo de conversão para o meu coração de pai, pois os danos que a droga causara à família, endureceram o meu, e agora precisava me entregar a um tempo de arrependimento e confissão, buscando a cura da minha alma, para depois ir ao encontro do coração do meu filho. Meses se passaram e num final de manhã, ele acordou, e sob o chuveiro, cantava em voz alta: “canta, canta minha gente, deixe a tristeza pra lá! Canta, canta, canta alto, que a vida vai melhorar! ”. Era a senha que eu precisava. Fiquei surpreso que Deus falasse por Martinho da Vila, mas fui em frente!
Antes que ele ganhasse a rua, interrompi sua saída de casa e disse:
– Filho, preciso falar com você!
– Não tenho nada pra falar com o senhor!
– Mas eu é que preciso falar!
– Estou com pressa…
– Vai ser só um instante…
– Então fala!
– Precisa ser em particular. Então nos separamos na sala da casa.
Repeti o que ele havia dito à mãe, recebi de volta uma “desconversa”: “Aquilo é conversa de bêbado, eu gosto do senhor. Não leve à sério”.
Não me detive. Pedi que olhasse dentro dos meus olhos e olhando nos olhos dele, confessei o meu pecado: “Eu pequei contra você, feri seu rosto e sua dignidade, te envergonhei na frente de seus amigos, me perdoe em nome de Jesus. A pressa acabou e depois de quase dez anos, nos abraçamos e choramos. Deus iniciou um processo de cura na vida dele. Os sentimentos ruins foram removidos e sem nenhum tratamento de desintoxicação, Deus o libertou! Voltamos a ser família!
Os fatos estão na história, mas é como se nunca tivessem ocorrido. Não ficou ferida e no Dia dos Pais, podemos nos abraçar sem dor, sorrir juntos e desfrutar de dias preciosos como família.
Esse pai sou eu e o filho é o Esdras, filho do meio, os outros dois Sergio e Walber, formamos uma equipe de homens unidos pelo amor.


Texto do missionário Walter da Mata