Por Alex Dias Ribeiro.
Falar de Ayrton Senna como piloto, é chover no molhado. Ele é “simply the best”, o “Pelé das quatro rodas”, mas poucos conhecem o homem Senna sem o capacete.
Eu tive o privilégio de conhecê-lo ainda jovem na inauguração do Kartódromo de Uberlândia, em dezembro de 1978, como vizinho nos boxes.
Duas provas fizeram parte do programa: Uma para os kartistas em atividade e outra para celebridades como Ingo Hoffman, Chico Serra e todos os campeões de cada categoria do automobilismo brasileiro.
Senna venceu a corrida dos kartistas e eu venci a corrida das celebridades.
Homem x Mito.
Ao contrário do super-herói ao volante, Ayrton aparentava ser um homem tímido, sensível, introvertido, calado, vulnerável, de olhar tristonho.
Altamente competitivo e obstinado pela vitória, era um mau perdedor. Segundo lugar para ele era má colocação.
Era dono de uma personalidade muito forte e um senso de justiça exacerbado. Seus adversários eram vistos por ele como inimigos odiosos.
Seu maior inimigo foi o ditador presidente da FIA que o desclassificou na decisão do Campeonato Mundial de 1988 para beneficiar o conterrâneo Alain Prost.
Inconformado com as mutretas do sistema, engajou-se numa cruzada ferrenha por mais segurança numa F1 que matava 1 ou 2 pilotos por ano, e obteve uma vitória extraordinária em benefício dos pilotos que o sucederam no palco da história, ao custo de sua própria vida.
Morreu lutando por seus ideais. Sua morte chocou a opinião pública mundial. Só então a FIA, sob nova direção, resolveu criar o Comitê de Segurança que impôs a reestruturação dos carros, das pistas e do pronto atendimento médico.
Como resultado, 20 anos se passaram sem nenhuma morte na F1. E continua salvando vidas até hoje, através dos novos padrões de segurança desenvolvidos e testados nas pistas e incorporados aos carros de rua.
Encontros com Deus
No início da temporada de 1988, ele já era considerado o piloto mais rápido da F1, e tinha carro para vencer. Mas coisas nunca davam certo para ele: Uma quebra de motor aqui, um pneu furado ali, um acidente acolá.
Má sorte ou forças malignas? Para esclarecer essa questão, sua irmã convidou uma pessoa que fez uma poderosa oração de libertação.
Ayrton experimentou uma série de vitórias que o deixaram tão impressionado com o poder e amor desse Deus, que decidiu segui-lo.
Para ajudá-lo, eu dei-lhe uma Bíblia na linguagem contemporânea, que ele andava devorando e me cravando de perguntas difíceis. Um dia ele deu de cara com esse verso: “Abre a tua boca e colocarei nela as minhas palavras” Jeremias 1:9
Ayrton entendeu que o recado era para ele e soltou o verbo numa coletiva de imprensa assumindo publicamente sua fé.
“Bomba! Bomba! Bomba! – Senna pirou de vez!” diziam alguns, outros passaram a cobrar dele a conduta de um santo, que ele não era, alegando que ele falava muito em Deus, mas pilotava como um demônio. Senna sentiu a pressão e se retraiu de expor-se publicamente, mas nunca deixou de dar o seu recado.
Declarações de Ayrton Senna
Seus pensamentos revelam bastante do seu conteúdo, valores e convicções:
A Fórmula 1 é um tempo perdido se não for para vencer.
O importante é ganhar. Tudo e sempre. Essa história que o importante é competir não passa de demagogia.
Quando Deus quer, não há quem não queira.
Vi Jesus no fim de uma reta em Suzuka a mais de 300km/h. Sua imagem era tão grande que ia do chão até o céu. Ele se revelou para mim de um jeito que eu pudesse entender.
Ele (Deus) é o dono de tudo. Devo a Ele a oportunidade que tive de chegar aonde cheguei. Muitas pessoas têm essa capacidade, mas não têm a oportunidade. Ele a deu para mim, não sei por quê. Só sei que não posso desperdiçá-la.
Vocês nunca conseguirão saber o que um piloto sente quando vence uma prova. O capacete oculta sentimentos incompreensíveis.
Se depender de mim, vocês, jornalistas, irão esgotar os adjetivos do dicionário.
Trabalhei muito para chegar ao sucesso, mas não conseguiria nada se Deus não me ajudasse.
O acidente em Mônaco (1988) me levou para perto de Deus. Mudou muito a minha mentalidade.
Não sei dirigir de outra maneira que não seja arriscada. Quando tiver que ultrapassar, vou ultrapassar mesmo. Cada piloto tem um limite. O meu é um pouco acima do dos outros.
Meu maior adversário? Sou eu mesmo…
No que acredito mesmo é em Deus.
Meu sonho não tem fim, e eu tenho muita vida pela frente…
Ayrton morreu logo depois dessa última declaração. Mas seu espírito continua mais vivo do que nunca na presença de Deus. Para ele e todos que encontraram em Cristo o caminho para a eternidade; a morte não é o fim.
Alex Dias Ribeiro, é missionário da SEPAL desde 2012, atuando com capelania esportiva, com a visão ministerial de alcançar o mundo para Cristo através da linguagem universal do esporte.
A SEPAL é uma organização plataforma que oferece suporte a diversos ministérios, assim como o de capelania esportiva. Conheça nossos missionários e seus diversos ministérios em https://sepal.org.br/missionarios/.
Créditos de imagem
Instituto Ayrton Senna / Wikimedia Commons (reprodução)