O processo de revitalização de igrejas tem se mostrado um tema cada vez mais importante. Como pastores e líderes podem identificar se a igreja local precisa ser revitalizada? Quais são os princípios e áreas que envolvem o processo de revitalização? Estes e outros tópicos foram abordados na live “Quando a revitalização da igreja é necessária”, disponível no canal da Sepal no Youtube.
Para conversar sobre o assunto, Caio Batista, pastor da Hub Sorocaba e coordenador de comunicação do CTPI, recebeu Rubens Muzio, missionário da Sepal, professor da Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA) e coordenador do Instituto de Revitalização e Desenvolvimento de Igrejas (REDE). Muzio é autor de DNA da Liderança, DNA da Igreja, DNA da Vida Cristã e A Jornada Pela Humildade.
Para Rubens Muzio, muitas igrejas evangélicas vivem décadas de atraso. São herdeiras de uma história milenar, mas erram em preservar o que não é para ser preservado e esquecem de fazer as mudanças necessárias. A pandemia confronta essas igrejas com uma realidade que já está posta há anos. No mesmo sentido, Caio Batista comenta que a igreja está sendo desafiada como qualquer outro segmento da sociedade e que isso é uma oportunidade de avançar e encarar as mudanças.
Revisitando os fundamentos
Rubens comenta que, muitas vezes, colocamos muita identidade na estrutura, nos projetos, em prédios e eventos, mas tudo isso é secundário e não define a igreja. É hora de repensar o que marca uma comunidade autêntica e o que significa uma comunidade genuinamente cristã. É hora de revisitar os conceitos básicos do que significa ser igreja e o que é prioridade para ser comunidade.
Explorando mais o assunto e como a pandemia impacta o processo de revitalização de uma igreja, Muzio apresenta princípios que, segundo ele, são fundamentais para revitalizar as comunidades de fé e precisam ser revisitados nestes tempos de pandemia. Ele explica que momentos de grandes mudanças são propícios para pastores e líderes refletirem acerca do que é fundamental para a igreja.
Primeiro princípio: Revisitar a espiritualidade
Muzio afirma que o primeiro princípio para a revitalização da igreja é a volta à raiz da nossa espiritualidade. Segundo ele, para uma comunidade se revitalizar é preciso uma conexão muito clara de despertamento espiritual, com uma espiritualidade que tem Cristo como centro. “Me parece que estamos, frequentemente, correndo atrás de técnicas, estratégias, modelos e propostas ministeriais que grandes igrejas ou grupos mais conhecidos fazem. Mas é preciso olhar para si mesmo e parar de buscar modelos e paradigmas de grandes movimentos. É preciso examinar mais cuidadosamente a nossa vida cristã, examinar a espiritualidade de nossos cultos, e avaliar se estamos vivendo uma vida mais alinhada com os princípios do evangelho”, argumenta Muzio.
Revisitar a espiritualidade, explica Rubens, tem a ver com discernir se somos, de fato, discípulos de Jesus e se temos prazer em fazer a vontade de Deus. Ele afirma: “Parece que assumimos uma série de práticas religiosas, moralistas e superficiais, passando a nos preocupar muito mais com o que é externo. Paramos de pensar na transformação interior que é iniciada por Deus e que precisamos viver.”
Resumindo este primeiro princípio da revitalização, Muzio diz: “O processo de revitalização é um processo espiritual e um trabalho do Espírito Santo de Deus, que tem que começar por Deus e com Deus.”
Segundo princípio: Revisitar a missão
O segundo princípio apresentando implica na missão da comunidade de fé. É um convite para pastores e líderes conduzirem os membros da igreja a refletirem sobre as seguintes perguntas: Por que nós existimos como comunidade? Para que estamos aqui? É uma discussão que se desenvolve sob uma robusta base teológica e envolve uma observação do contexto sociocultural, estabelecendo uma ponte entre a teologia e a missiologia.
Muzio explica que é um exercício de olhar para o mundo imperfeito, ferido e agredido e, em nosso coração, fazer ecoar uma fala teológica: “Deus ama este mundo e deseja redimi-lo”. Antes de olhar e se inspirar em qualquer modelo e copiar projeto, a igreja precisa se voltar para este ministério da reconciliação, de um Deus que ama o mundo e que quer se reconciliar com ele.
Terceiro princípio: Revisitar a visão
O terceiro princípio tem a ver com algo mais prático. As perguntas que norteiam esta etapa são: Onde queremos chegar? Para onde nós vamos? Aqui, os pastores e líderes, junto com a comunidade, fazem o exercício de olhar o contexto, a realidade, as mudanças que estão acontecendo, e começam a imaginar como será a cara da igreja daqui a cinco anos.
Ao aplicar o terceiro princípio, a igreja poderá perceber que a visão de ontem não serve mais para hoje. Muzio comenta que é preciso revisar a visão pensando no futuro, para dar novo foco. Uma visão revitalizada “tem que ser algo contemporâneo, regado na esperança, inovador, missional, consciente das mudanças socioculturais, acolhedor, sensível às dificuldades das pessoas e que dialogue com diferentes gerações”, descreve Muzio.
Quarto princípio: Objetivos claros e específicos
O quarto princípio apresentado por Rubens é direcionado pela pergunta “como saber que estamos chegando lá?” Ele explica que nesta etapa, pastores e líderes conduzem a comunidade olhando para os desafios do contexto local e pensando em novas formas de como estabelecer os projetos ministeriais. “É um tempo de reciclar modelos. Muitas coisas que funcionavam, não vão mais funcionar”, afirma.
Sobre este princípio, Caio Batista comenta: “A pandemia nos coloca diante de questões que não tem a ver com repensar, prioritariamente, a estrutura estética em si. Tem a ver com resgatar a simplicidade. Se antes o coração do líder era consumido por construir uma estrutura, agora o simples será a nova linguagem, a nova estratégia.” E Muzio confirma, dizendo: “Menos é mais. Poucas estratégias, porém, mais focadas. A igreja não precisa responder a todas as perguntas de seu contexto local, mas focar em algumas, considerando os dons e habilidades dos membros da igreja.”
As quatro áreas da revitalização
Além de apresentar os quatro princípios do processo de revitalização, Rubens Muzio fala sobre as quatro áreas que envolvem a revitalização de uma igreja local. Ele acredita na revitalização integral ou crescimento integral, que abrange quatro dimensões: numérica, orgânica, conceitual e diaconal.
O crescimento numérico tem sua importância, mas para um desenvolvimento saudável, a igreja não pode focar apenas em números. O desenvolvimento precisa ser orgânico, pois a comunidade é um organismo vivo que interage, não apenas uma estrutura com pessoas isoladas. Este desenvolvimento se preocupa em como integrar as diversas partes, as relações, a comunhão, os conflitos, a convivência e as experiências coletivas.
Muzio explica que a dimensão conceitual tem a ver com a inteligência da fé, ou seja, o grau de consciência da prática cristã. Ele descreve: “Hoje, no meio de tanta polarização social e política, é fundamental entender a identidade do reino de Deus e a finalidade da comunidade onde existimos, como sal e luz, como grão de mostarda. Tem a ver com a nossa compreensão da vida cristã a partir do chão em que vivemos.”
A quarta área, o desenvolvimento diaconal, diz respeito ao serviço ao próximo. Rubens explica: “Estamos em meio a comunidade, bairros e cidades feridas que precisam, de forma concreta, compreender o amor de Deus e receber essa dádiva generosa. Isso se dá por meio de projetos de assistência social. À medida que vamos dando concretude e visibilidade ao amor, a igreja poderá responder à necessidades atuais, participando dos conflitos, temores e esperança da comunidade.”
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Clique aqui e assista a live na íntegra.
Por Phelipe Reis | Jornalista e colaborador de conteúdo para o site Sepal.