Texto de Luiz Bruneto
Sabemos que o agente da missão urbana é a igreja. Na verdade, a resposta de Deus para a cidade é a igreja¹ . Porém, antes de falarmos em ação, carecemos detectar os problemas que envolvem quaisquer iniciativas na cidade.

Desafios

Os desafios que a igreja enfrentará como instrumento divino colocado à disposição para a implantação do Reino de Deus na cidade, são imensos. É preciso ter um olhar de misericórdia com a cidade, alvo do amor de Deus.
Em primeiro lugar, precisamos saber que 30 a 50% da população de muitas cidades encontra-se na linha de pobreza. Por isso, a estratégia urbana deve abranger um Evangelho que leve o Pão da Vida e o pão que dá vida.
O segundo desafio surge desse primeiro. Dado a grande pobreza que boa parte dos habitantes da cidade estão vivendo, existe um abismo com tremendas desigualdades socias. Esse é um desafio para vivermos na cidade em paz, justiça e solidariedade, sem nenhum tipo de exclusão social, econômica, religiosa, racial, cultural etc..
O terceiro desafio nasce do caráter multi-religioso e secular. Existe nas cidades hoje um sincretismo religioso muito forte. As pessoas não se importam mais com a “religião da família”, mas com aquilo que pode trazer vantagens ou alívios pessoais. Na vida urbana, o importante é o bem estar, mesmo que pra isso seja necessário abandonar alguns princípios herdados ou aprendidos.
Outro desafio nasce do que Roger S. Greenway chama de atitudes anti-urbanas. Para ele,

Muito do trabalho missionário foi desenvolvido inicialmente em áreas rurais. Isso fazia sentido no passado, enquanto muitas pessoas viviam nessas comunidades. Agora, o desafio se encontra nas grandes cidades e nelas há um número reduzido de missionários. Muitos deles acabam por ficar tão perturbados pelo barulho, tráfico, poluição, problemas sociais, criminalidade e lugares lotados, que preferem trabalhar em áreas rurais ou pequenas cidades do interior. Certamente, estas áreas rurais e cidades menores também precisam ouvir o Evangelho. No entanto, mais atenção precisaria ser dada às massas de pessoas não salvas e não alcançadas por igrejas nos grandes centros urbanos².

Diante dos desafios precisamos tomar posições certas para realizar uma “pastoral urbana para a realidade”.

Estratégias

A primeira posição é de uma verdadeira vida cristã. As cidades sofrerão o impacto do amor e da presença de Deus quando a igreja tomar consciência de que pode transformar a sociedade e o mundo, deixando-se ser curada de suas pressuposições e preconceitos e restaurada em sua missão por Deus. Um ministério urbano deve ser encharcado de oração e vida com Deus. A batalha se trava principalmente nas regiões celestes, onde o inimigo de nossas almas não deseja ver a cidade salva e restaurada por Deus.
Depois, precisamos analisar: porque será que a pregação atual não tem sido tão eficaz quanto nos dias da igreja primitiva? Sei que existem várias respostas para essa pergunta, mas quero me deter na pregação, pois, como invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? (Rm 10:14).
Sem o poder do Espírito Santo é impossível sermos eficazes na pregação do Evangelho. Sem o Espírito, o que falamos se torna ensaio moral, discurso político, desabafo de frustrações emocionais, parlatório. O Espírito é aquele que nutre, que dá vida à mensagem. Através do Espírito é que ela pode e consegue transformar corações de pedra em corações de carne (Ez 36:26). Então é necessária uma pregação do Evangelho no poder do Espírito Santo.
Depois, uma pastoral comunitária acompanhada de uma teologia transformadora da cultura. Jesus agia com os discípulos da seguinte forma: “vem e vê!”. Ele estava diariamente com o povo e seus discípulos estavam juntos. Por diversas vezes, o Senhor os deixa em uma situação difícil para que eles pudessem achar soluções para elas (Mt 14:16; Lc 9:13; Mt 17;16). Junto com o povo, com o conhecimento que transforma corações, podemos levar à cidade restauração.
A quarta posição é de uma pedagogia dessa teologia. Não adianta saber somente os conteúdos dela, é necessário inculcá-las. Para isso são necessários princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um objetivo prático, que responda às necessidades das pessoas da cidade.
Em quinto lugar, para uma pastoral relevante para o contexto urbano é o que Robert Lithcum chama da terceira ato-identidade comum da igreja com relação à cidade, ou seja, a igreja com a cidade. De acordo com C. Timóteo Carriker, aqui a igreja se encarna dentro da comunidade e se torna parceira com a comunidade para se dirigirem juntas às necessidades. Significa que a igreja permite que a própria comunidade instrua a igreja na identificação de suas necessidades e na resolução das mesmas
Concluindo, é necessário saber que os desafios para a implantação do Reino de Deus na cidade são grandes, mas que através do poder do Espírito Santo, aquele que autentica toda boa obra, é possível esse sonho. Depois, as estratégias são necessárias para que isso aconteça. As estratégias, contudo, são fruto de uma encarnação com a cidade.
1 C. Timóteo CARRIKER. Op.Cit. p. 39
2 Roger S. GREENWAY. Op. cit
3 C. Timóteo CARRIKER. Op.Cit. p. 39