Estava assistindo uma entrevista do cantor e compositor da década de 60, Geraldo Vandré que compôs a canção “Para não dizer que não falei das flores”. A composição se tornou um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura durante o governo militar, e foi censurada.

O Refrão “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora/ Não espera acontecer” foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores. Depois de ficar exilado  retornou ao país, porém decidiu viver no isolamento. Em poucas palavras é fácil perceber toda sua decepção com o Brasil, com a arte, a cultura e movimentos políticos em nossa pátria. Ao ver toda história, cheguei a conclusão que o caminhante há muito tempo desistiu de caminhar em direção a um mundo melhor, por achar isso uma utopia.

Nossa caminhada como discípulos de Cristo

A partir disso decidi pensar em nossa caminhada como discípulos de Cristo, onde muitos, ao constatar algumas realidades genéricas do evangelho, têm desistido de caminhar. Vejo uma geração que tem pensado em parar, que tem escolhido desistir da marcha e compreendo que por mais que as razões sejam consideráveis não temos o direito de parar de caminhar e cantar.

Nós ao contrário de Vandré, mesmo não conseguindo ver um cenário evangélico empolgante,  somos chamados a tomar nossa cruz todos os dias e seguir, porque é assim que ganhamos a vida diariamente  a partir do momento em que decidimos perdê-la.

Devemos entender que a vida se encontra somente no caminho. A canção é pode ser entoada no caminho. O mundo só é melhor e poderá se tornar ainda melhor porque existem caminhantes de pés formosos; “Como são belos nos montes os pés daqueles que anunciam boas novas, que proclamam a paz, que trazem boas notícias, que proclamam salvação, que dizem a Sião; “O seu Deus reina” Is: 52:7.

O desejo de caminhar

O desejo de caminhar acontece quando começamos a olhar para o mundo como um lugar que precisa ser salgado, um ambiente que precisa ser iluminado; quando constatamos quão caótica se torna a vida, sem os caminhantes. Somos os caminhantes  em direção aos pródigos que perderam tudo e estão tentando encontrar o caminho de volta; somos os caminhantes  em direção aos Zaqueus que não se realizaram tendo muitas riquezas; somos os caminhantes  em direção aos leprosos  livrando-os de um estado vil, desprezível, os caminhantes cheios de graça que caminham em direção aos indignos, os caminhantes que carregam toalhas nos ombros, lavando os pés daqueles que se sujaram na estrada.

Quando penso no impacto que a igreja pode causar no mundo, vejo que vale a pena continuar a prosseguir como peregrino. Não podemos pensar na igreja como uma instituição que tem fim em si mesma, não podemos divorciá-la da sua missão. A igreja está aí, caminhando e cantando e seguindo a canção. A igreja esta aí, dizendo a todos que têm sede que venham e bebam. A igreja se torna bela e formosa quando evidenciamos o seu significado pelos perdidos que se acham quando a encontram.

Caminhada Cristã

John Bunyan , falando sobre a caminhada cristã: “Deus espalhou flores do seu jardim no caminho todo, desde a porta do inferno, onde você estava, até a porta do céu, aonde você vai. Veja como as promessas, convites, chamadas e encorajamentos, como lírios, estão ao seu redor! Cuide para não pisá-las debaixo de seus pés”. 1

Sejamos a geração que tem a capacidade de se encantar com lírios que ainda existem neste caminho, tirando  os nossos olhos dos espinhos que se colocam no caminho prontos para machucar todos que se aproximam. Existem belos lírios ao nosso redor.

A.W Behm,  agente ecumênico do Pietismo Halle disse; “Haverá um tempo em que a igreja de Cristo subirá do deserto dessas várias seitas, partidos, nações, línguas, formas e modos de culto, livre de cruzes e aflições, recostando-se no seu amado, e no poder dele, enviando desafios a todos os seus inimigos. Então, essa igreja, que agora aguarda como a manhã a sua aurora, depois de um crescimento continuo em força e beleza, aparecerá terrível como um exército com bandeiras; mas terrível apenas para aqueles que a desprezaram, enquanto não havia chegado á maioridade, e não quiseram que seu amado reinasse sobre eles”.2

Vamos prosseguir caminhando e cantando o cântico novo, que é resultado daqueles que foram resgatados pelo cordeiro de Deus, Jesus Cristo!

1 - Come and Welcome to Jesus Christ (1678), em John Brow, John Bunyan, p. 300. 
2 - A.W. Boehm, Preface de true Christianity, Johan Arndt, 2ed., rev.London: D. Brown & J.Downing, 1720.