O trabalho missionário envolve enormes desafios. Desde o preparo teológico, missiológico e antropológico, orientação ministerial, filiação a uma agência missionária e a desafiadora etapa de captação de recursos para a saída ao campo. E o que pode acontecer quando missionários não conduzem ou não vivenciam adequadamente cada uma dessas etapas? O reflexo virá à tona no campo, podendo ocasionar até o retorno precoce do missionário. Books Buser descreve a situação com a seguinte ilustração:

“Hoje em dia, em grande parte do mundo, pode-se comprar e voar sem licença em um determinado tipo de aeronave. Essas aeronaves são geralmente chamadas de ultraleves, quase sempre pequenas, leves, lentas e fáceis de operar. Para aqueles que estão procurando uma alternativa mais econômica que os leve ao ar, os ultraleves são uma ótima opção. No entanto, para voar no exército, serão necessários pelo menos seis anos até que se esteja autorizado a pilotar um avião de combate. A responsabilidade e as consequências são muito maiores e, por isso, o treinamento é obrigatório, rigoroso e sério. Preocupa-me que a igreja evangélica esteja enviando pilotos de ultraleves para os lugares mais desafiadores da face da terra e não consegue entender por que os resultados são tão ruins”. [i]

O retorno prematuro de missionários tem sido alvo de pesquisas no movimento missionário global. Um dos estudos de referência sobre o assunto foi desenvolvido pela Comissão de Missões da World Evangelical Alliance (WEA) e teve como objetivo avaliar quantos missionários estavam retornando para casa e por quais razões [ii]. Os resultados apontam que, em média, 5,1% da força missionária abandona o campo a cada ano. Desse percentual, 70% eram por causas evitáveis, como aposentadoria, morte e motivos políticos. No Brasil, os dados da pesquisa mostraram que a taxa de retorno é de 7% ao ano e dentre as principais causas de retorno de missionários, as agências brasileiras mencionam o sustento financeiro.

Os dados comprovam que a captação de recursos ou o levantamento de sustento está entre os grandes vilões do retorno de missionários para casa. Na verdade, para muitos missionários o processo de formar uma rede de parceiros, os mantenedores, parece ser uma etapa muito difícil e até mesmo um “bicho de sete cabeças”.

A dor do levantamento do sustento

Um artigo de Lorraine Oliveira sobre causas de estresse entre missionários, menciona uma pesquisa com oito cuidadores de missionários, a maioria brasileiros, em contextos transculturais [iii]. Buscando identificar as queixas mais frequentes entre os missionários, a falta de suporte financeiro apareceu em 62,5% dos relatos. O artigo menciona um levantamento realizado pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, em 2016, com a participação de 146 missionários sobre pontos de estresse no campo. A dimensão financeira, controle e administração dos recursos apareceu em mais da metade das respostas (55,6%).

O desafio é real. Não são poucos os relatos de missionários que têm o sustento cortado pela igreja enviadora quando a igreja passa por uma crise financeira. O cenário global da crise econômica torna as coisas mais difíceis ainda. A cultura, a desigualdade e a cosmovisão de um país em desenvolvimento, que carrega em sua história anos de colonização, talvez estejam na raiz desse problema. Há também o lado dos missionários, no que diz respeito a disciplina, organização, planejamento, prestação de contas e comunicação com os mantenedores. Quando essas áreas são negligenciadas, podem comprometer o sustento missionário.

Mas será que o processo de captação de recursos não pode ser diferente? Quais princípios e estratégias podem ser utilizadas para ter êxito nesta etapa? Há algo que precisa mudar na mentalidade da igreja e dos candidatos ao campo em relação ao sustento missionário? Qual o papel da igreja, do missionário e da agência neste processo?

Rafael Bandeira, administrador e consultor na área de captação de recursos para organizações cristãs, comenta num artigo [iv] reconhecendo a coragem dos missionários em deixarem seus países e enfrentarem possível perseguição por amor à Cristo, mas destaca que quando o assunto é captação de recursos, há inaptidão na realização da atividade. Bandeira enfatiza que pensamentos de inadequação podem estar rondando o coração de missionários, mas precisam ser superados, afinal, todos os recursos são do Senhor (Salmos 24.1). O especialista enumera alguns pontos que atrapalham o levantamento de sustento:

  • Acreditar que não tem potenciais mantenedores. Muitos não enxergam, em sua rede atual de relacionamentos, potenciais parceiros ministeriais, encontrando dificuldades para iniciar os contatos de mobilização missionária.
  • Infelizmente muitas pessoas têm medo de abordar o assunto do sustento missionário com seus potenciais parceiros. O medo da rejeição é uma grande barreira para os missionários.
  • Falta de zelo. Levantar sustento é algo que exige energia, tempo, criatividade e riscos. Trata-se de uma prática tão importante quando as demais operações no campo missionário, e precisa ser realizada com excelência.
  • Falta de prestação de contas. É imprescindível que ele preste contas periodicamente à sua rede de mantenedores e aos seus potenciais parceiros. Isso demonstra seriedade, responsabilidade quanto ao uso dos recursos ofertados.

A importância da agência missionária

Tanto os estudiosos da missiologia como missionários experientes são unânimes em recomendar que candidatos ao campo se filiem a uma agência missionária. Há denominações que possuem junta e departamentos que atuam como agência enviadora. Mas há muitas igrejas que não possuem departamentos ou estrutura para gerenciar o processo de envio de missionários para campos transculturais. Nesses casos, é fundamental o papel de uma agência missionária de envio, que fará a ponte para o missionário entre a igreja enviadora e o campo de atuação.

Há 58 anos a Sepal atua como agência enviadora e já direcionou dezenas de missionários para diversos países. Atualmente, conta com 42 missionários em contexto transcultural, servindo em outras nações. A vasta experiência de envio para diferentes contextos e campos de atuação, confere à Sepal credibilidade, maturidade e expertise em todo o processo de envio, orientação ministerial e cuidado integral com os missionários.

Jorge Carvalho vive com a família há dez anos na Romênia servindo como missionário. Ele conta que quando se filiou à Sepal, algo que chamou a sua atenção foi o enfoque da agência no serviço (o próprio nome da missão carrega o verbo servir). Jorge lembra que no início da jornada missionária junto à Sepal um dos presentes que ele e a esposa receberam de Oswaldo Prado foi uma toalha – uma toalha como símbolo do serviço. “Nós, como missionários, estamos aqui no campo para servir aos nacionais, para lavar os pés dos pastores e líderes aqui da Romênia”, descreve o missionário.

Carvalho também destaca a mentoria que a Sepal oferece aos missionários em campo e os valores de família e de equipe que a organização cultiva e incentiva. “Nós estamos aqui servindo, em equipe multicultural. Servimos juntos em projetos que vão muito além da capacidade que eu teria para realizar sozinho. Hoje, vivemos realidades que nunca poderíamos imaginar. Somos ricamente abençoados porque nós escolhemos obedecer”, conclui Carvalho.

Na Sepal, existe um processo pelo qual o candidato ao campo missionário precisa passar para então fazer parte do corpo de missionários da Sepal.

É importante destacar que, embora pareça demorado e burocrático, todo o processo desde a candidatura, aprovação e envio do missionário é de suma importância. Pois existem para prevenir problemas, minimizar o impacto da transição e equipar o missionário para que ele tenha condições para desenvolver o ministério que Deus colocou em seu coração, com menos riscos de um retorno prematuro.

O levantamento de sustento é uma das principais etapas e exige dedicação, oração e atenção da parte do missionário. Pois a formação da rede de parceiros/mantenedores é um dos últimos requisitos para que o missionário seja enviado para o campo, devidamente preparado. Para ajudar os missionários neste processo, a Sepal preparou um e-book especial com dicas e orientações que podem ajudar na captação de recursos. Você pode acessar e baixar gratuitamente.


Por Phelipe Reis | Jornalista e colaborador de conteúdo para o site Sepal.