Essas ferramentas podem vir a ser úteis quando você estiver em campo, prestando atendimento à crises. Antes de enfrentar uma situação de crise, você pode dar uma olhada nesses artigos e pensar em quais deles poderiam ser mais relevantes para o momento.
Foi concedida a permissão para uso e cópia desses materiais sem fins lucrativos, sem edições nos artigos e para uso dentro dos limites de sua competência.
Tradução em Português por Diogo Tenório Militão e Lailah Bossan Quaresma.
O luto é a resposta de todo o nosso ser a qualquer perda. Como cristãos aprendemos maneiras de lidar com o sofrimento, mas não estamos isentos dele. I Tessalonicenses 4.13 nos ajuda a entender que ainda podemos ter esperança em meio à nossa dor, pois temos a perspectiva da eternidade. Alguns interpretaram isso como um significado de que não deveríamos sofrer. Mas Paulo nos diz em Romanos 12.15 para nos alegrarmos com os que se alegram e chorarmos com os que choram. Em Isaías 63.9, baseado no contexto do amor infalível do Senhor, nos diz que em todo o sofrimento do seu povo, “Ele também sofreu”. Deus se junta a nós em nossa dor e caminha pelo vale da sombra e da morte. Ele nos dá um modo de caminhar com os outros, enquanto eles sofrem.
Uma vez que os eventos traumáticos quase sempre incluem algum tipo de perda, o luto faz parte do processo de recuperação traumática. Muitas vezes o luto está associado à morte, mas nós lamentamos muitos outros tipos de perdas que incluem:
- Material – perda de um objeto físico ou ambiente familiar
- Relacionamento – perda da presença emocional e física de uma pessoa significativa
- Funcional – perda da capacidade física para realizar determinadas tarefas
- Função – perda de uma função ou status social específico
- Sistêmicas – perdas na vida familiar ou organizacional (por exemplo, mudanças nas tradições, estruturas familiares, benefícios financeiros, tipo de ministério, etc.)
- Psicológico – perda de esperanças, sonhos, sensação de segurança, proteção ou estima
O Processo de Luto:
O luto tende a ser como uma jornada com muitas reviravoltas. Podemos gostar de pensar que é um processo linear, com etapas e prazos definidos, mas na vida real tende a ser confuso e complicado. Isso ocorre porque muitas vezes sofremos várias perdas ao mesmo tempo e cada perda tem seu próprio cronograma e complicações. Um evento traumático, como uma evacuação ou deportação, pode envolver múltiplas perdas, incluindo a perda de uma casa, a perda de amigos, morte de entes queridos, a perda de foco ministerial, a perda de segurança e de planos futuros. Às vezes, sentimos que o luto acabou, mas um novo acontecimento significativo na vida pode levantar uma nova onda de luto ao percebermos que isso não será compartilhado com aquele que se foi. Além disso, perdas passadas que não foram totalmente lamentadas, podem complicar ou intensificar o luto de novas perdas.
O Ciclo de Luto – A descrição abaixo ilustra que o luto tende a seguir um curso que envolve caminhar por um vale profundo antes de emergir em um lugar de força e crescimento. O luto é uma experiência comum aos humanos e a maioria experimentará alguns aspectos desse ciclo de luto; no entanto, a forma como esses elementos do luto são expressados é frequentemente conduzida pela cultura e pela personalidade. Às vezes tentamos tomar um atalho indo diretamente do Impacto Inicial para a Nova Vida, mas acaba sendo um falso atalho. Se não enfrentarmos diretamente a dor antes de entrarmos numa nova vida, descobriremos que estamos sempre olhando por cima dos nossos ombros e fugindo das emoções dolorosas, em vez de entrarmos autenticamente na nova vida que Deus tem para nós.
O ciclo do luto/ perda:
Respondendo ao luto:
Não existe uma maneira certa de responder àqueles que estão em luto. Uma resposta carinhosa ao luto trará a presença calma e amorosa de Cristo, dando espaço para a cura de Deus e proporcionando apoio prático para acompanhar a pessoa neste processo tão doloroso. A forma como respondemos depende da condução do Espírito Santo e de onde a pessoa se encontra no Ciclo do Luto. Ao responder àqueles que sofreram perdas, precisamos respeitar o enlutado e o seu próprio processo. Alguns podem ficar tão sobrecarregados que não estão prontos para falar sobre sua dor. Eles podem escondê-lo por um período de tempo antes de estarem prontos para enfrentá-lo. Em algumas situações, especialmente quando o luto é complicado ou quando a dor está enterrada/oculta há muito tempo, um conselheiro profissional pode ser mais eficaz.
Impacto inicial:
Nos momentos imediatos após uma perda, a pessoa enlutada experimentará choque, entorpecimento e negação. Eles podem exclamar repetidamente “Não” depois de ouvir a má notícia. Eles podem ter uma aparência inexpressiva ou não ter nenhuma reação visível. Esse tipo de entorpecimento é a maneira natural do corpo amortecer a gravidade do impacto.
À medida que a pessoa vai absorvendo a realidade da perda e lutando para aceitá-la, nosso papel é ser uma presença calma e segura com as seguintes orientações:
- Dar a notícia mansamente se formos nós que contamos a eles sobre a perda
- Fornecer ajuda prática
- Ajudá-los a tomar decisões, conforme necessário
- Evitar falar demais
Lutando com a realidade da dor:
Depois que o choque do impacto inicial passa, a pessoa pode começar a sentir emoções fortes, como raiva e medo. Frequentemente, eles farão perguntas como: “Como isso pôde ter acontecido?” e “Por que Deus permitiu que isso acontecesse?” Essas perguntas são tentativas de desfazer o que aconteceu e são, na verdade, mais acusações vindas de um lugar de dor do que questões intelectuais, que podem ser satisfeitas com uma resposta lógica. A pessoa está começando a sentir a dor da perda e ainda assim resiste porque é muito difícil.
Aquele que escuta pode oferecer suporte de várias maneiras, incluindo:
- Estar presente e disponível
- Ouvir pacientemente
- Permitir que expressem a sua dor, desde que não esteja causando danos a si mesmo ou a outros
- Garantir-lhes de que não estão enlouquecendo
- Ajudá-los a organizar o que precisa ser feito
- Evitar fazer julgamentos, especialmente quando expressam raiva
- Evitar responder com percepções espirituais que ainda não podem ser absorvidos
Enfrentando a dor diretamente:
Esta é, em muitos aspectos, a parte mais difícil do luto e, quase sempre, a mais evitada. O enlutado pode sentir culpa e remorso ao refletir sobre coisas que gostaria de ter dito ou feito de forma diferente. Muitas vezes sentem-se solitários, isolados e até deprimidos. Alguns temem que isso vá durar para sempre e há uma sensação de desesperança. Como isso acontece de forma mais profunda ao longo dos próximos dias e meses, aqueles que apoiaram o enlutado podem não estar tão presentes, conscientes ou disponíveis, o que agrava os sentimentos de isolamento.
À medida que a pessoa tenta formar novos relacionamentos e novos padrões, ela pode descobrir que as tentativas iniciais parecem não funcionar ou não são adequadas para ela. O seu foco ainda está principalmente no passado e é fácil comparar o presente com o passado e julgar o presente como carente do que o passado continha. Muita coisa foi destruída para um enlutado e eles estão se adaptando a um mundo onde sentem falta do que foi perdido, tirado. Os ajudantes podem apoiá-los das seguintes maneiras:
- Convidando a pessoa a falar sobre a sua perda e as suas memórias
- Dando-lhes a oportunidade de falar sobre o que estão aprendendo e descobrindo
- Desafiando gentilmente quaisquer conclusões irracionais e dando-lhes a oportunidade de responder
- Explorando quaisquer feridas que precisem ser perdoadas ou qualquer pecado que precise ser confessado
- Ajudando-os a falar sobre novos valores, metas e crenças
- Incentivando-os a experimentar coisas novas ou a dar uma segunda chance a coisas novas
- Evitando apressá-los ou dizer que é hora de seguir em frente
Nova vida:
Depois que uma pessoa tiver passado pelo profundo vale da dor e se permitido enfrentar diretamente a dor e receber conforto genuíno do Senhor, ela será capaz de experimentar genuinamente novos relacionamentos, novas forças e novos padrões. Embora ainda muito consciente da perda e não isenta de dor por essa perda, a pessoa sentirá esperança no futuro e se sentirá confiante outra vez em fazer novas escolhas e traçar novos rumos. Como a pessoa enfrentou honestamente o passado e perdoou os outros e a si mesma, ela fica mais livre para se concentrar no presente e no futuro com menos culpa e menos arrependimentos. Aqueles que escutam continuam a ter um papel fundamental na vida da pessoa desta forma:
- Acompanhando e continuando a apoiá-lo
- Incentivando novas iniciativas
- Incentivando o desenvolvimento de competências em novas áreas
- Evitando esperar que a pessoa retorne ao seu “antigo eu”
Essas ferramentas foram desenvolvidas como parte de um treinamento de 5 dias chamado Crisis Debriefing Training, ministrado pela Barnabas International (www.barnabas.org). Elas são mais utilizadas por aqueles que receberam esta formação, mas podem ser úteis para cuidadores leigos que se deparam com situações de crises. Essas ferramentas podem vir a ser úteis quando você estiver em campo, prestando atendimento à crises.
Antes de enfrentar uma situação de crise, você pode dar uma olhada nesses artigos e pensar em quais deles poderiam ser mais relevantes para o momento. Foi concedida a permissão para uso e cópia desses materiais sem fins lucrativos, sem edições nos artigos e para uso dentro dos limites de sua competência.
Segue abaixo a lista das Ferramentas:
- Avaliação de crises – modelo BÁSICO
- Perguntas frequentes sobre o debriefing de crises
- Visão geral das sete etapas do debriefing crises
- Reações comuns ao trauma – ADULTOS
- Reações comuns ao trauma – ADOLESCENTES
- Reações comuns ao trauma – CRIANÇAS
- Gatilhos pós-trauma
- Técnicas de Ancoragem
- Respiração profunda
- Relaxamento muscular progressivo
- Controle de raiva
- Maneiras de lidar com um trauma
- Ajudando crianças em meio a crises
- Inventário de estresse de obreiros transculturais
- Compreendendo o luto
- Diretrizes para o encaminhamento
- Documentação de respostas à crises – Ações e Recomendações
Tradução em Português:
Diogo Tenório Militão, casado com Débora. Missionário SEPAL. Psicólogo graduado pela UNIFOR, possui pós-graduação em Aconselhamento Pastoral pela FTSA e é Mestre em Cuidado Transcultural pela All Nations, na Inglaterra. Com 20 anos de experiência em missões transculturais, atualmente trabalha diretamente com o cuidado de missionários, especialmente com ênfase em cuidado clínico.
Lailah Bossan Quaresma, casada com o piloto Rodrigo e mãe de três meninos(um jovem e dois adolescentes). Há 21 anos, trabalha com aviação missionária na Amazônia Brasileira, como parte da Missão do Céu. É Conselheira Bíblica licenciada pela ABCB e pós-graduada em Tradução de Inglês, atuando no cuidado de famílias missionárias.