Texto original de Alex Galloway

A raiva é uma resposta saudável à injustiça. É uma reação comum e normal após um evento traumático. Às vezes, porém, a raiva pode ser adiada e/ou suprimida, o que pode ser confuso para o sobrevivente e também para aqueles que o rodeiam. Devido às expectativas culturais ou familiares, as pessoas podem relutar em admitir a raiva que sentem por dentro, não apenas dos outros, mas até de si mesmas. Podendo tornar-se um desafio estar ao lado das pessoas quando elas têm medo de reconhecer sua raiva e extravasá-la.

Maneiras pelas quais a raiva pode se manifestar:

  • Irritabilidade – os sobreviventes de traumas já estão em um estado elevado de ansiedade ou “sem paciência”, de modo que podem facilmente ficar sobrecarregados e irritados.
  • Passivo-Agressivo – isso geralmente ocorre quando a expressão aberta de raiva não é permitida (pessoal ou culturalmente), então as pessoas expressam passivamente sua raiva (por exemplo, recusando-se a se comunicar, insultos sutis, teimosia, não completando tarefas, etc.)
  • Raiva – explosões repentinas de raiva que parecem fora de controle e podem assustar os outros e também a própria pessoa. Isso pode ser
    direcionado a entes queridos. Isso pode ocorrer quando as pessoas se sentem ameaçadas, como se o trauma estivesse acontecendo novamente.
  • Depressão – raiva de si mesmos (por não se recuperarem, por não responderem como gostariam).
  • Retraimento – manter as pessoas à distância serve para protegê-las (e aos outros) de experimentar a raiva interior.

Lidando com a raiva:

  • Normalizar seus sentimentos de raiva – é certo e bom ficar com raiva de um erro que ocorreu.
  • Dê apoio e empatia dizendo: “Também estou com raiva porque isso aconteceu com você”.
  • A injustiça precisa ser compreendida e validada. Ajude-os a identificar a origem da raiva. Ajude-os a se conectarem com a ira de Deus contra o mal que foi feito a eles ou a alguém de quem gostam.
  • A raiva às vezes pode ser uma emoção mais fácil e mais tolerável do que o medo intenso que eles podem sentir por trás dela. Ajude-os a explorar quaisquer emoções negativas associadas ao trauma, não apenas a raiva.

Coisas úteis para perguntar:

  • Se eu tivesse experimentado um pouco do que você passou, teria ficado muito zangado. Você já se sentiu assim?
  • Quando ficamos com raiva, geralmente isso indica que algo está errado. Quais foram os erros que estão deixando você com raiva e como isso impactou você e/ou aqueles que você ama?
  • O que a raiva está lhe dizendo sobre o que você esperava, queria ou precisava?

Coisas úteis para dizer:

A raiva é um sentimento natural que as pessoas têm quando algo ruim ou errado acontece.

  • Muitas vezes podemos sentir raiva de Deus, mas sentimos vergonha de admitir isso ou falar sobre isso, o que coloca distância entre nós e Deus. Tente não permitir que isso interrompa a comunicação com o Senhor. Tal como Davi, não tenha medo de partilhar com Ele a sua frustração, mágoa, confusão e raiva.
  • O sentimento de raiva não é bom nem ruim, mas a forma como expressamos nossa raiva pode ser destrutiva ou construtiva.

Coisas a evitar dizer/fazer:

  • Você só precisa aprender a se controlar; sua raiva está ficando fora de controle.
  • Bons cristãos não ficam com raiva.
  • Você não tem o direito de ficar tão chateado.
  • Se você apenas perdoá-los, a raiva passará.
  • Citar as Escrituras de uma forma que julgue ou seja inoportuna.

Incentive-os a:

  • Explore as razões pelas quais eles sentem raiva e o significado dessa raiva.
  • Depois que a raiva for reconhecida, explore como eles expressaram raiva no passado e incentive expressões saudáveis (por exemplo, atividade física, arte, diário, dança, poesia, escrever um salmo, encontrar uma música que corresponda ao sentimento, etc.)
  • A atividade física pode ajudar a reduzir a tensão interna associada à raiva prolongada.
  • Encontre bons amigos que os apoiem, que não os julguem ou tentem consertá-los e com quem seja seguro expressar a raiva que sentem por dentro.

O que aprendemos na Bíblia sobre a raiva:

A raiva é uma emoção normal. O próprio Deus experimenta e expressa raiva. Ele não proíbe a raiva, mas as Escrituras falam do potencial da raiva ser destrutiva se lhe dermos livre curso. O que aprendemos sobre a raiva nesses versículos?

  • João 2:14-16—“No templo encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombos, e os cambistas sentados ali. E fazendo um chicote de cordas, expulsou todos do templo, junto com as ovelhas e os bois. E derramou as moedas dos cambistas e derrubou as suas mesas. E ele disse aos que vendiam os pombos: ‘Tirem essas coisas embora; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio.’”
  • Quando os fariseus se recusaram a responder às perguntas de Jesus, “Ele olhou para eles com raiva, profundamente angustiado com a obstinação de seus corações” (Marcos 3:5).
  • Deus ficava irado com a nação de Israel e com os reis de Israel toda vez que eles deixavam de obedecê-Lo (por exemplo, 1 Reis 11:9–10; 2 Reis 17:18).
  • Êxodo 15:7—Êx. 15:7 – “Na grandeza da sua majestade você derrubou aqueles que se opuseram a você. Você liberou sua raiva ardente;
    consumiu-os como restolho.” Salmos 35:17-18: “Até quando, Senhor, olharás e não farás nada? Salve-me de seus ataques ferozes. Proteja minha vida desses leões! Então lhe agradecerei diante da grande assembleia. Eu te louvarei diante de todo o povo”.
  • Efésios 4:26-27: “Irai-vos e não pequeis; não deixe o sol se pôr sobre a sua raiva e não dê oportunidade ao diabo.
  • Provérbios 19:11: “O bom senso torna a pessoa vagarosa em irar-se, e é sua glória ignorar uma ofensa.”
  • Efésios 4:31-32: “Toda amargura, e cólera, e ira, e clamor, e calúnia sejam afastadas dentre vós, junto com toda malícia. E sede uns para com os outros bondosos e compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou”.
  • Tiago 1:19: “. . . que todos sejam prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para se irar.”
 
Sobre as ferramentas do Crisis Debriefing Training, ministrado pela Barnabas International

Essas ferramentas foram desenvolvidas como parte de um treinamento de 5 dias chamado Crisis Debriefing Training, ministrado pela Barnabas International (www.barnabas.org). Elas são mais utilizadas por aqueles que receberam esta formação, mas podem ser úteis para cuidadores leigos que se deparam com situações de crises. Essas ferramentas podem vir a ser úteis quando você estiver em campo, prestando atendimento à crises.

Antes de enfrentar uma situação de crise, você pode dar uma olhada nesses artigos e pensar em quais deles poderiam ser mais relevantes para o momento. Foi concedida a permissão para uso e cópia desses materiais sem fins lucrativos, sem edições nos artigos e para uso dentro dos limites de sua competência.

Segue abaixo a lista das Ferramentas:

  1. Avaliação de crises – modelo BÁSICO
  2. Perguntas frequentes sobre o debriefing de crises
  3. Visão geral das sete etapas do debriefing crises
  4. Reações comuns ao trauma – ADULTOS
  5. Reações comuns ao trauma – ADOLESCENTES
  6. Reações comuns ao trauma – CRIANÇAS
  7. Gatilhos pós-trauma
  8. Técnicas de Ancoragem
  9. Respiração profunda
  10. Relaxamento muscular progressivo
  11. Controle de raiva
  12. Maneiras de lidar com um trauma
  13. Ajudando crianças em meio a crises
  14. Inventário de estresse de obreiros transculturais
  15. Compreendendo o luto
  16. Diretrizes para o encaminhamento
  17. Documentação de respostas à crises – Ações e Recomendações

Tradução em Português:

Diogo Tenório Militão, casado com Débora. Missionário SEPAL. Psicólogo graduado pela UNIFOR, possui pós-graduação em Aconselhamento Pastoral pela FTSA e é Mestre em Cuidado Transcultural pela All Nations, na Inglaterra. Com 20 anos de experiência em missões transculturais, atualmente trabalha diretamente com o cuidado de missionários, especialmente com ênfase em cuidado clínico.

Lailah Bossan Quaresma, casada com o piloto Rodrigo e mãe de três meninos(um jovem e dois adolescentes). Há 21 anos, trabalha com aviação missionária na Amazônia Brasileira, como parte da Missão do Céu. É Conselheira Bíblica licenciada pela ABCB e pós-graduada em Tradução de Inglês, atuando no cuidado de famílias missionárias.