O serviço é uma das marcas da Igreja de Cristo. Tal serviço se desdobra e se concretiza numa diversidade de ministérios na igreja local e fora dela. Enquanto comunidade de fé, servimos aos irmãos, para fortalecimento da comunhão e amadurecimento da fé, por meio de diversos dons, talentos e recursos que Deus confiou a cada um. Enquanto igreja em missão no mundo, servimos às pessoas ao nosso redor na comunidade, na vizinhança, no bairro e na cidade, de acordo com as necessidades do contexto e os recursos da igreja, para que se cumpra o que diz na Bíblia:
“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5.16).
Entretanto, sabemos quem nem sempre é fácil mobilizar e cultivar o voluntariado na igreja. A rotina das pessoas em cidades de médio e grande porte, em certa medida, pode dificultar com que os membros da comunidade sirvam nos ministérios da igreja local. Não é fácil dividir o tempo para dar conta do trabalho, faculdade, afazeres de casa, etc., sem falar do tempo gasto no trânsito. Mesmo reconhecendo essa dificuldade com a questão do tempo, há quem diga que se trata de uma questão de prioridade.
O pastor Sérgio Lyra, numa palestra, é enfático ao afirmar: “A gerência do seu tempo é uma questão de prioridade. Quando você disser que não tem tempo para realizar alguma tarefa, você precisa primeiro rever as suas prioridades, porque se nós damos prioridade para algo, nós arrumamos tempo para isto. Eu digo para os membros da minha igreja: ‘quando você disser para mim que não tem tempo para algo que eu estou lhe convidando para trabalhar, seja franco e diga que não tem prioridade para isso na sua vida, porque se aquilo é prioridade, você arruma tempo’.”
Dificuldades na mobilização
O pastor Carlos Roberto de Mello Más atua como Diretor Executivo e Superintendente de Captação de Recursos e Comunicação de Asas de Socorro, uma organização de aviação missionária. Com grande experiência em organizações cristãs do terceiro setor, ele reconhece que, historicamente, a igreja sempre se beneficiou da mão de obra voluntária e que o voluntariado passou a ser muito valorizado nos últimos anos, inclusive no mundo corporativo, que inseriu o voluntariado como um requisito para seleção de candidatos.
Para Igor Vale, pastor e missionário pela Igreja do Nazareno em Manaus, Amazonas, a mobilização para o serviço voluntário na igreja local enfrenta dificuldades por uma série de fatores. Segundo ele, estamos vivendo uma época de muito conformismo, cobiça e conforto. “Essa mentalidade reflete na igreja quando olhamos o limitado número de pessoas que se colocam a disposição para servir nos ministérios e iniciativas da igreja local”, argumenta.
O missionário comenta outra dificuldade na mobilização de voluntários: “Tem pessoas que querem servir somente em suas áreas de atração. Muitos cristãos não se propõem a servir como aprendiz, mesmo sendo algo que não está em sua lista de paixões deveriam se colocar à disposição para servir aprendendo. Muitas pessoas ainda usam a famosa frase ‘esse não é meu chamado’.”
Dez dicas para mobilizar voluntários
Na visão do pastor Carlos Más, a motivação do voluntariado está estreitamente relacionada à causa. “Há pessoas para todas as causas. A maior satisfação do voluntario é saber que um gesto, uma atitude, uma ação, ainda que pequena e por tempo determinado, foi capaz de produzir algum tipo de impacto positivo, transformador”, comenta.
Pedimos aos pastores Carlos Más e Igor Vale para compartilharem algumas dicas a respeito do processo de mobilização de voluntários. Os tópicos abaixo foram compilados a partir da colaboração deles e deste artigo do site Inchurch:
1- Desenvolva na igreja uma educação cristã que inclua o voluntariado como padrão de vida.
2- Defina bem a Causa e apresente com entusiasmo. Convide as pessoas a fazerem o que lhes causa satisfação.
3- Divulgue com testemunhos de pessoas que já estão envolvidas no serviço. Quem já fez, fala como foi para quem está pensando em fazer. De preferência, gente falando para gente da mesma geração.
4- Crie um sistema de ministérios que facilite o voluntariado, com oportunidades sempre disponíveis e crescentes.
5- Estimule os que já estão envolvidos. A roda precisa ficar girando sempre. Envie mensagens pelas redes sociais, promova encontros relâmpagos, etc.
6- Proporcione no ministério um espaço de convivência social saudável e não um ambiente de competição.
7- Acelere o engajamento de novos convertidos para começar cedo o trabalho voluntário em serviços de acesso. Ou seja, quem está começando pode receber pequenas tarefas e as responsabilidades aumentam à medida que o tempo passa.
8- Seja claro ao anunciar oportunidades. Informe a data de abertura e encerramento das inscrições. Especifique as vagas disponíveis e explique o processo de inscrição. Disponibilize fichas de cadastro impressas ou informe um link para o preenchimento online.
9- Conte com o apoio dos líderes de células ou pequenos grupos. Peça a eles para divulgarem as oportunidades para seus liderados. Por acompanharem mais de perto os membros do grupo, os líderes podem ajudar a identificar talentos com disposição para servir.
10- Faça convites face a face. As pessoas tendem a responder a pedidos pessoais. Quanto mais impessoal for o apelo, mais diminuem as chances de alguém atendê-lo.
Como fortalecer a cultura do voluntariado na igreja
O pastor João Pedro Gonçalves, em artigo sobre a força do voluntariado, apresenta orientações importantes para fortalecer a cultura do serviço voluntário na igreja. Ele destaca a importância de delegar autoridade e cobrar responsabilidade. “Dê ao voluntário a autoridade de fazer o ministério funcionar da melhor forma possível. Depois de você oferecer liberdade e autonomia para se fazer melhor, cobre a responsabilidade. Se o voluntário tiver uma meta, um prazo, uma ideia ou coisa parecida, ajude-o. Dê apoio e cobre mais tarde as ações. Converse com ele para que ele mesmo sugira algumas mudanças e aperfeiçoamento no desempenho do seu ministério”, comenta Gonçalves.
Tiago Lopes Pedro, pastor na PIB Campo Grande, em Cariacica (ES), levanta outra questão sobre o voluntariado na igreja local. Segundo ele, muitos voluntários acabam abandonando o serviço nos ministérios por causa da falta de cuidado da liderança com os voluntários. Voluntários precisam de cuidado contínuo, assim como qualquer outro membro da igreja. “É preciso aprender com Jesus como cuidar daqueles que estão ao nosso lado e que continuarão aquilo que começamos como ministério, e, para glória de Deus, podem fazê-lo muito melhor que nós”, afirma o pastor.
Outra orientação fundamental é quanto ao treinamento dos voluntários. A falta de treinamento mata o voluntário e faz ele desistir antes do tempo. O treinamento, além de capacitar, faz com que ele veja que você acredita, investe e o valoriza. Portanto, promova seminários, congressos e cursos e ofereça ferramentas e recursos necessários para o voluntário realizar as atividades do ministério. Essa também é uma forma de cuidar dos voluntários.
Por Phelipe Reis | Jornalista e colaborador de conteúdo para o site Sepal.