Por Phelipe Reis

A igreja nunca foi estática, sempre foi um organismo em movimento. Já passamos pela era da mitologia, do racionalismo, do utilitarismo e, hoje, a pós-modernidade nos leva a pensar em um novo modo de espiritualidade. Infelizmente, no decorrer da história a igreja tem demorado para reconhecer e entender seu contexto histórico.

A igreja tem vivido uma realidade ímpar, usando recursos como nunca teve, não só na internet, mas em diversas outras áreas e atividades. Como igreja, temos muita madeira para construir o navio, mas não temos aprendido a olhar para o oceano, como na célebre frase de Saint Exupéri: “Se você deseja construir um navio, não reúna pessoas para comprar madeira, preparar as ferramentas, distribuir tarefas e organizar o trabalho, mas ensine-os a desejar o oceano”.

Nosso modelo de liderança está obsoleto. Ainda estamos no monólogo em que um ensina para muitos. Os líderes precisam se ajustar e entender que, hoje, o modelo mais adequado é “um para um” ou de “muitos para muitos”, com relações horizontais,  disposição para mudar, mostrar vulnerabilidade e não arrogância, trabalhar em redes e não em estrutura hierárquica.

Outro desafio que temos é o conflito intergeracional. Pela primeira vez na história quatro gerações convivem juntas. Só que isso tem causado conflitos intergeracionais na sociedade e na igreja. Precisamos encarar o desafio de aprender como conciliar gerações que convivem juntas na igreja e precisam trabalhar juntas para o reino.

O consumismo e a dinâmica de mercado, que invadiram as igrejas, é uma grande ameaça para o desenvolvimento da missão de Deus no mundo, pois muitas igrejas passaram a ser como uma agência de bens e serviços para atender consumidores. Outra ameaça é o fenômeno da atração como o caminho inverso da missão. A igreja trocou o envio pela atração. A liderança foca mais em ações do ambiente acolhedor, como na estética, e uma palavra voltada mais para o adorador do que para a missão e o envio de missionários.

Precisamos enfrentar a cultura, compreendendo que ela não é neutra e que a igreja precisa saber interpretar o ambiente em que está, para poder se tornar relevante em seu contexto sem deixar de ser fiel ao evangelho. Este é o desafio para que igrejas “rígidas” se tornem missionais. Como disse Churchill: “Nós damos forma aos edifícios e depois eles dão forma a nós”. Nas igrejas “rígidas”, a frequência aos cultos passou a ser sinônimo de status de fidelidade a Deus e o tamanho do prédio ganhou uma importância indevida. É preciso confrontar essa herança templária e recordar que a igreja primitiva era doméstica.

Como encontramos saídas para esta situação? Precisamos de humildade para reconhecer nossas debilidades na liderança e nos modelos de igrejas e precisamos de coragem para enfrentar o conflito intergeracional, a cultura consumista e o fenômeno da atração como o caminho inverso da missão. E não podemos esquecer que, mesmo diante de tantos desafios da sociedade “líquida”, a missão de Deus pode avançar porque a palavra de Deus permanece.

Nota: texto produzido a partir da palestra de Oswaldo Prado no Encontro Sepal 2020.