Há 10 anos atrás a frase de C. Raven martelou na minha mente com força de bigorna e voz de muito eco: “Entre as mais fascinantes atividades no mundo, existe algo mais absorvedor do que a busca do conhecimento de Deus?”
Realmente não existe nada, nada mesmo mais brilhante, fascinante, maravilhoso, arrebatador e ao mesmo tempo intenso, absorvente e consumidor que conhecer Deus. Em meio aos meus freqüentes distanciamentos, desvios, e atalhos comuns à vida, regresso frequentemente ao caminho principal da jornada que me conduz à vida eterna: quero conhecer Deus mais que a própria vida. Vale mais que bilhões de dólares e viver na Europa ou passear na Disney; vale mais que todas as propriedades, carros e objetos high techs que eu possa acumular durante minha vida. Mesmo titubeante, indeciso, como que apalpando a escuridão, tenho sede, tenho fome, quero conhecer mais o Deus Pai amoroso e criador, quero conhecer mais seu Filho Jesus, o redentor e mediador.
Quero andar mais com Deus
Há mais de 25 anos, sentado no pátio de uma escola municipal em Bauru com um amigo, chorávamos juntos, e eu dizia: “quero andar mais com Deus”, ele, um grande pregador, que se tornou amigo próximo, fortaleceu minha fé, me incentivando nesta caminhada. Nunca me esquecerei daquele momento: comecei a desejar mais e mais conhecer Deus. Poucos meses antes, ao finalizar meus estudos no Ensino Médio no Colégio Salesiano de Piracicaba e sem prestar vestibular, abandonei meus sonhos juvenis em fazer medicina, me matriculei no Seminário Presbiteriano e mudei-me para Campinas, SP. A vida cristã estava só no começo.
Desde então, li muitos livros sobre Deus e conversei com inúmeras pessoas sobre suas experiências espirituais, mas continuo uma criança insegura diante do tema do conhecimento de Deus. Buscando melhorar meu nível de aprendizado, fiz mestrado e doutorado, mas ainda sinto meu conhecimento de Deus como ínfimo, desprezível, incompleto, inquieto. Como pode um homem conhecer Deus? Em busca de Deus, orei e andei com frequência entre bosques e árvores, desejei silenciar minha alma muitas noites após a agitação e estresse diário, procurando ouvir Deus, falando em silenciou ou em voz alta, andando e gesticulando meus braços como um “bom italiano” pelos cômodos da minha casa, depois que todos dormiam (e meus filhos ou vizinhos não estavam olhando nem ouvindo!) Embora não tenha ouvido vozes, nem tido visões frequentes, Deus me visitou repetidamente e experimentei sua doce e ao mesmo tempo terrível presença de forma real e próxima; senti algumas vezes (gostaria que fossem mas frequentes) uma alegria inexplicável e incomensurável, mais profunda que qualquer prazer humano, (ao ponto de provocar uma frustração diante de qualquer outro tipo de alegria humana), reconheci estar diante do Pai criador e sua glória encher meu coração com o doce amor líquido do sangue do Filho de Deus. Senti inúmeras vezes o doce som do Espírito dentro de minha mente, falando ao meu coração: Eu sei, meu filho, que, mesmo que você me busque mais e mais, por enquanto seu desejo de me conhecer plenamente não será realizado e você se sentirá frustrado e incompleto. Por mais algum tempo, você viverá pela fé, não ouvindo nem tocando, tendo a sensação que não chegará nunca ao final. Viva como se eu estivesse aqui, mesmo que você não possa me ver. Eu estou aqui. Eu conheço você. Eu estou com você. Na verdade, eu estarei com você até o final dos tempos. Nada, nada, nem mesmo o sofrimento, a dor e a morte, poderão separar você do meu amor. E do outro lado da morte, você ficará comigo para todo o sempre, até o final dos tempos, quando os anos não se contam mais. Você vai me ver face a face, você vai ouvir a minha voz e sentir meus braços amorosos em torno de você. Você verá a minha glória e a intensidade do amor do meu Filho. Por enquanto, você não recebeu plenamente o que eu tenho prometido. Espere com paciência, determinação e alegria por esse dia. Aquele que perseverar até o final será salvo.
Por onde começar?
Por onde começar? Se você clicar “Conhecer Deus” (Knowing God) no google aparecerão incríveis 267.000.000 de resultados. O livro do J. I. Packer encontra-se em primeiro lugar, como o mais procurado. Uma das primeiras citações de Packer que constituiu o prefácio adequado para sua excelente série de estudos sobre a natureza e o caráter de Deus é um trecho do sermão de um pregador de 20 anos de idade, chamado Charles H. Spurgeon, pregado em 1855. Aqui estão alguns trechos:
“O estudo correto do eleito de Deus é Deus; o estudo apropriado ao cristão é a divindade. A mais alta ciência, a mais elevada especulação, a mais poderosa filosofia que possa prender a atenção de um filho de Deus é o nome, a natureza, a pessoa, a obra, as ações e a existência do grande Deus, a quem chama Pai. Nada é melhor para o desenvolvimento da mente que contemplar a divindade. Trata-se de um assunto tão vasto, que todos os nossos pensamentos se perdem em sua imensidão; tão profundo que nosso orgulho desaparece em sua infinitude … Nenhum tema contemplativo tende a humilhar mais a mente que os pensamentos sobre Deus… Ao mesmo tempo, porém, que este assunto humilha a mente, também a expande. Aquele que pensa com freqüência em Deus terá a mente mais aberta que alguém que apenas caminha penosamente por este estreito globo. […] O melhor estudo para expandir a alma é a ciência de Cristo, e este crucificado, e o conhecimento da divindade na gloriosa trindade. Nada alargará mais o intelecto, nada expandirá mais a alma do homem que a investigação dedicada, cuidadosa e contínua do grande tema da divindade. Ao mesmo tempo que humilha e expande, este assunto é eminentemente consolador. Na contemplação de Cristo existe um bálsamo para cada ferida; na meditação sobre o Pai, há consolo para todas as tristezas, e na influência do Espírito Santo, alívio para todas as mágoas. Você quer esquecer sua tristeza? Quer livrar-se de seus cuidados? Então, vá, atire-se no mais profundo mar da divindade; perca-se na sua imensidão, e sairá dele completamente descansado, reanimado e revigorado. Não conheço coisa que possa confortar mais a alma, acalmar as ondas da tristeza e da mágoa, pacificar os ventos da provação que a meditação piedosa a respeito da divindade… Para quem não conhece a Deus o mundo se torna um lugar estranho, louco, penoso, e viver nele pode ser decepcionante e desagradável. Despreze o estudo de Deus e você estará sentenciando a si mesmo a passar a vida aos tropeções, como um cego, como se não tivesse nenhum senso de direção e não entendesse aquilo que o rodeia. Deste modo poderá desperdiçar sua vida e perder a alma.”
Estas palavras de Spurgeon servem como ponto de partida para aquilo que desejo demostrar: Você precisa de uma visão de Deus grande o suficiente para arrebatá-lo, motivá-lo, curá-lo e alegrá-lo. Nada trará mais felicidade ao ser humano que o verdadeiro conhecimento do Deus amável, desejável, eterno, majestoso, altíssimo e verdadeiro, salvador e consolador. Você tem sede e anseia por Deus? Somente em Deus sua alma encontrará paz diante da inquietude e felicidade diante da incompletude. Quando você conhece a Deus, as perdas e as dores deixam de ter tanta importância; o que você ganhou poderá afastar sua mente dessas coisas. Você conhece mesmo Deus? Você confia mesmo nele? Falaremos mais sobre isso no próximo artigo.