Em conversa com nossa equipe, Edméia compartilha um testemunho edificante e fala sobre o potencial de transformação que a igreja tem

Por Cleiton Oliveira

Na próxima segunda-feira, dia 14 de setembro, às 19h, a Sepal transmitirá uma live exclusiva com Edméia Williams, pregadora do Evangelho conhecida, entre outras atividades, pelo relevante trabalho desenvolvido na Casa de Maria e Marta, instituição social localizada na Comunidade Dona Marta, em Botafogo (RJ). Desde sua fundação em 1990, a casa tem transformado a realidade de milhares de famílias por meio do amor cristão demonstrado em ações práticas. Edméia faz parte do time de preletores do Encontro Sepal On-line 2020, que será transmitido pela Internet nos dias 24 a 26 de setembro.

Para que você se aqueça para o Encontro, a Sepal preparou dois conteúdos especiais: a live com Edméia Williams, que acontecerá às 19h da próxima segunda-feira, dia 14, e uma entrevista que você acompanha a seguir.

No bate-papo, Edméia compartilha um testemunho comovente acerca do início do trabalho no Morro Dona Marta, divide experiências que elucidam o potencial de transformação que a igreja tem e comenta sobre a importância da reflexão proposta para o Encontro Sepal 2020. Confira!

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Sepal: Conte-nos um pouco sobre a história da Casa de Maria e Marta.

Edméia Williams: Minha história com a Casa de Maria e Marta começou num domingo chuvoso, enquanto saída da igreja. Na ocasião, minha família e eu havíamos chegado recentemente do Iraque, onde meu esposo trabalhava como engenheiro da Petrobrás. De volta ao Brasil, nos instalamos na cidade do Rio de Janeiro.

Desfrutávamos de uma excelente condição de vida e frequentávamos uma comunidade de pessoas abastadas. Ao sair de carro com meu esposo e filhos, uma menininha de mais ou menos 5 anos de idade se aproximou do veículo com uma caixa na mão. Ali dentro, a pequena carregava alguns doces, como chocolates e chicletes. Infelizmente, meu esposo passou inadvertidamente por uma poça d’água, e a menina, ao saltar para trás, caiu, derramando tudo o que tinha no chão. Meu esposo não parou e seguiu viagem.

Naquele momento, senti muita vergonha. A imagem da pobre menina caída no chão mexeu comigo profundamente. E foi aí que acordei para o ministério. No outro dia, fui até o lugar e perguntei para o porteiro quem era aquela criança. Como resposta, ele apontou para o Morro Dona Marta, favela que não tinha percebido até então.

Embora a tenha procurado com imensa vontade de ver seu rostinho novamente, nunca mais vi aquela menina. A partir dessa experiência, passei a amar o morro a tal ponto de dizer a Deus: “Dá-me esse morro senão eu morro!” Sabia que tinha de fazer algo com crianças e passei a me envolver.

A Casa de Maria a Marta foi fundada em 1990 e tem como objetivo oferecer atividades no contraturno escolar a crianças e adolescentes até os 14 anos. Lá, eles recebem reforço escolar, aulas de dança, canto, música, informática e suporte físico, material e espiritual. Também lhes damos três refeições diárias. Com isso, pais e mães carentes podem trabalhar com tranquilidade, sabendo que os filhos não estão sozinhos ou soltos pela favela, mas bem acolhidos em um ambiente de amor, respeito e dignidade.

Em sua opinião, de que forma a atitude altruísta viabiliza a receptividade em relação à Palavra de Deus por parte das pessoas atendidas? Por que a igreja não pode perder isso de vista? 

Ao tecer-nos no ventre materno, Deus nos concede dons, conforme Romanos 12. Quando os manifestamos ao mundo, não o fazemos por nós mesmos, mas refletimos aquilo que o Pai já colocou em nós. No que se refere à misericórdia, por exemplo, acredito que ninguém é misericordioso por si, mas porque já nasceu “temperado” com misericórdia.

Ao vivermos em comunhão com o Espírito Santo, Ele nos capacita a usar os dons para a glória de Deus. Nosso intuito é honrá-lo e não receber aplausos do mundo. Assim, quando o altruísmo vem temperado com o amor de Cristo, ele atrai as pessoas. De fato, é através do amor que vamos impressioná-las.

A igreja não pode perder isso de vista, tendo em mente o que está escrito em Deuteronômio 15.11: “Sempre haverá pobres na terra. Por isso, ordeno que compartilhem seus bens generosamente com os pobres e com outros necessitados de sua terra”, e as palavras de Jesus: “Vocês sempre terão os pobres em seu meio […]” (Jo 12.8). O desafio está à nossa frente, e só vamos conseguir superá-lo ao entendermos que é o amor de Cristo em nós que viabiliza a receptividade da Palavra de Deus, não nossa linguagem bonita.

“É o amor de Cristo em nós que viabiliza a receptividade da Palavra de Deus, não nossa linguagem bonita.”

 De que forma pode-se conciliar trabalho social com ajuda espiritual?

Ao conciliarmos trabalho social com ajuda espiritual, não podemos perder de vista que tudo deve ser para a glória de Deus, como consequência da vida que temos no Espírito. Dessa forma, somos capacitados a superar as dificuldades e a doar-nos cada vez mais, pois temos um dínamo maior, o poder do alto.

O amor de Deus é o que nos norteia e é o que gera resultados. Lá na Casa de Maria e Marta, por exemplo, faço uma “seleção” — na verdade, uma brincadeira com cada criança que pretende ingressar na casa: digo que lá só recebemos crianças bonitas, mas TODAS o são! Afirmo a cada criança: “Você é linda! O Papai do Céu fez você assim!”.

Dia a dia, os pequeninos e pré-adolescentes aprendem que são especiais para Deus. Despertamos neles gratidão por serem obras do Pai, verdade que reverbera em seu ser como um todo, da infância à vida adulta. Nisso, cumprimos o chamado de plantar Jesus em terra boa, na qual tudo o que se planta dá. Quando se trata de criança, se a semente plantada for de malandragem, dará malandragem; se for de maldade, dará maldade; de prostituição, dará prostituição, mas se plantarmos Jesus, dará filhos de Deus!

“Quando se trata de criança, se a semente plantada for de malandragem, dará malandragem; se for de maldade, dará maldade; de prostituição, dará prostituição, mas se plantarmos Jesus, dará filhos de Deus!”

Nessa dinâmica, as crianças são edificadas em um ambiente em que se somam ao aprendizado e ao suprimento de itens fundamentais para o bem-estar, como roupa e alimentação, o respeito por cada uma delas. Pregamos e transmitimos o amor de Cristo com palavras e ações. Como resultado, as crianças contam aos pais o que aprenderam, impactando a família a tal ponto que pais e filhos se rendem a Jesus, influenciando não apenas cada lar, mas também o entorno social.

Desde o seu início, a Casa de Maria e Marta tem exercido um impacto significativo na comunidade. Outrora, considerado o morro mais perigoso do Rio de Janeiro, Dona Marta foi retirado da lista de favelas violentas no ano de 2004. Já em 2008, teve a primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) sem registro de tiro, derramamento de sangue ou prisão. Boa parte da comunidade é cristã evangélica. É assim que Deus tem trabalhado lá através do ministério cristão.

E para quem demonstra abertura para ouvir a Palavra de Deus, como ocorre o acompanhamento, a inserção em uma comunidade de fé e o discipulado?

Tenho certeza de que todas as igrejas evangélicas que existem no Morro Dona Marta são dirigidas por crianças que saíram da Casa de Maria e Marta. Muitas delas, ao aprender música ou dança, passam a fazer parte de uma comunidade de fé na qual possam usar o dom que desenvolveram. Ir para a igreja acontece de forma natural, sem nenhum encaminhamento de nossa parte. Como tocam, dançam e louvam na igreja, os pais vão assisti-las e acabam ouvindo a pregação da Palavra. Como sabemos, a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus. Como resultado, há muitas conversões e famílias transformadas por Cristo.

Poderia compartilhar duas ou três histórias de transformação que testemunhou e que refletem o poder restaurador da Palavra de Deus transmitida por uma igreja engajada socialmente?

Há muitíssimas histórias, mas falaria de maneira geral para não deixar nenhuma de lado. Hoje, muitos dos pequeninos que outrora frequentaram a casa são arquitetos, enfermeiros, professores, jornalistas, fisioterapeutas, mecânicos, líderes de louvor, homens e mulheres de bem, cristãos genuinamente convertidos.

Desde que começamos, nunca perdemos uma criança para os bandos nem para as drogas. É uma bênção ver o que Deus faz. Por tudo isso, digo que o ministério da Casa de Maria é Marta é um trabalho de Deus. Nunca tivemos ajuda do governo e, mesmo sem dispor de grandes recursos, todas as carteiras dos funcionários são assinadas, todos os encargos sociais são pagos. Assim, Deus tem feito a obra.

A partir de sua própria vivência ao longo da história da Casa de Maria e Marta e ao ver os resultados alcançados, quais lições a senhora aprendeu e que podem ser bons insights para as igrejas brasileiras? 

A primeira é esta: quando a nossa mão está aberta para dar, também está aberta para receber. “Dai, e dar-se-vos-á” (Lc 6.38). A segunda é que, se devemos receber o Reino de Deus como crianças, devemos aprender como é o coração delas. Tive uma experiência nesse sentido que até hoje me emociona.

Certo dia, em meados da Copa de 1994, um pai de família extremamente bêbado apareceu na favela buscando seus filhos. Ele estava desaparecido e, de repente, começou a gritar, pedindo à mãe das crianças que lhe deixasse vê-las. Os gritos desrespeitosos incomodaram os vizinhos de tal maneira que lhe aconselharam calar-se, para evitar confusão com outros homens da comunidade.

Finalmente, as crianças foram falar com o pai, inclusive o menor que tinha cerca de 4 anos de idade. O pai lhes disse: “Tomem banho e arrumem-se, pois vamos tirar retrato e ir aos Estados Unidos ver o jogo do Brasil. Depois, vamos voltar no mesmo avião que o Bebeto e o Romário”. Ao ouvi-lo, o menino saiu em disparada e foi à Casa de Maria e Marta. Ele tinha um assunto sério: “Rápido, por favor, corte meu cabelo!” — pediu entusiasmado — “Meu pai disse que vamos ao jogo do Brasil e viajar de avião com o Bebeto e o Romário”.

Naquele momento, Deus falou a mim pela boca daquele menino! O pequenino, eufórico, dizia: “O meu pai me disse… “O meu pai me disse”. Ali, percebi como as crianças aceitam a palavra do pai sem limitações. Assim como elas, também nós devemos confiar na Palavra de nosso Pai Eterno.

O tema do Encontro Sepal on-line em 2020 está fundamentado em dois conceitos interdependentes: A questão da “Vida na vida” e o chamado para que a igreja caminhe na “contramão da sociedade líquida”, despertando a atenção dos cristãos para a construção de relacionamentos profundos e significativos. O tema ganhou, inclusive, um contorno ainda mais urgente no contexto da pandemia do coronavírus. De que forma a senhora enxerga essa temática e a realidade da igreja que está inserida numa sociedade pós-moderna?

O tema do Encontro Sepal 2020 é importante porque esse é justamente o chamado da igreja aqui na terra. A Igreja, a Noiva de Cristo, tem de se aprofundar nos relacionamentos. Se ela fica na superficialidade e em cima do muro, é porque sofre da síndrome de Laodiceia, comunidade que foi repreendida por ser morna (Ap 3.14-22). Esse tipo de igreja ou cristão tem a Bíblia, mas não a lê, vai ao culto, mas não adora, chama o irmão de “amado”, mas, quando sai do templo, mal se lembra dele.

“Vida na vida” nos desperta para a realidade de que somos chamados a ser enraizados em Cristo. Raízes crescem em profundidade. Se assim estamos, ou seja, crescendo em profundidade, permanecemos interligados um no outro, formamos um só corpo. O mundo, logicamente, nos instigará a viver na superfície, pois esse é o papel de uma sociedade que não tem nada a ver com a igreja. Assim, somos chamados a nos posicionar na contramão desse sistema que vem da inteligência de Satanás.

“Somos chamados a ser enraizados em Cristo. Raízes crescem em profundidade. Se crescemos em profundidade, permanecemos interligados um no outro, formamos um só corpo.”

Qual é a expectativa que a senhora tem para o Encontro Sepal on-line?

 Creio que seremos conduzidos à reflexão acerca de nossa semelhança com Deus, pois hoje a igreja está muito focada em autoajuda e autoconhecimento. Creio que só nos conhecemos verdadeiramente quando nos aprofundamos no conhecimento Daquele que nos criou, pois fomos feitos à Sua imagem e semelhança. Estou certa de que o Encontro Sepal on-line 2020 será riquíssimo e enriquecedor.

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1º Aquecimento com Edméia Williams, que será transmitido na segunda-feira, dia 14/09, às 19 horas. Para fazer sua inscrição gratuita, clique aqui.
2º Encontro Sepal On-line, que acontecerá entre os dias 24 a 26 de setembro. Para saber mais e fazer sua inscrição com preço especial, clique aqui.

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