Em bate-papo com Arlete Castro, Mark Carpenter, Natália Bandeira e Thiago B. Moreira filhos de missionários, falam sobre os desafios de viver fora de seu país de origem
Por Fabrícia Oliveira
Com o intuito de mostrar algumas das realidades pertinentes à experiência transcultural, Arlete Castro, missionária e coordenadora da área de Cuidado Integral dos Missionários Transculturais da Sepal, liderou no início deste mês um bate-papo com Mark Carpenter, Natália Bandeira e Thiago B. Moreira, convidados que têm algo em comum: todos são filhos de missionários e viveram em países diferentes do que eles e/ou seus pais nasceram, experimentando, assim, o que se denomina: “terceira cultura”.
Dentre os assuntos discutidos na live, Arlete, Mark, Natália e Thiago compartilham histórias, trocam insights e falam sobre os efeitos do diálogo e da vivência entre culturas na formação da identidade, no senso de pertencimento e na capacidade de enfrentar novos desafios.
Arlete Castro, condutora da conversa, escreveu a tese de mestrado Filhos de Terceira Cultura: Autoestima, Resiliência e o Impacto na Identidade e no Sentido de Pertença”, a dissertação de mestrado reúne informações sobre a experiência de quem vive ou viveu fora de seu país de origem. De cunho analítico, e com base em pressupostos teóricos, a obra tem por objetivo identificar como a vivência intercultural impacta a vida dos “filhos de terceira cultura” (FTC).
Confira, a seguir, um breve resumo do vídeo:
Ser e crescer entre culturas: Ao tratar do significado de pertencer a duas culturas ou mais, os convidados ressaltam que é fundamental reconhecer que o “filho de terceira cultura” nunca será parte totalmente integrada de sua cultura natal, mas sim de todas a que vivenciou ao morar em diferentes países.
O assunto implica uma pré-disposição a mudanças em meio à falta de compreensão das pessoas em relação à identidade do estrangeiro e ao novo cenário que ele está vivenciando. Além de não ser uma tarefa fácil, aceitar essa identidade multicultural exige autoconhecimento e a construção de valores, o que tornará possível a integração a grupos distintos, porém fazendo uso de seus próprios termos.
Impactos na identidade: De acordo com os participantes, em meio à experiência transcultural ocorre uma troca de paradigmas no que se refere à visão de mundo e à maneira de enxergar o próprio país de origem. Surgem críticas negativas e positivas sobre o país deixado. Nisso, conjugam-se também as memórias, a nostalgia e a saudade.
Com a adaptação — um processo paulatino —, surge a consciência intercultural: mescla da aceitação com novos valores. Ao entender os impactos do ambiente na identidade do indivíduo, é possível lidar com os paradoxos multiculturais com mais flexibilidade.
Relacionamentos profundos em meio a contextos diluídos: Vínculos significativos podem sobreviver a distância. Nesse ponto, independentemente da proximidade geográfica e física, a saudade tem o potencial de fortalecer ainda mais a conexão, trazendo uma nova visão do valor de cada fração de segundo em que o contato é possível.
No que se refere aos amigos, não é preciso reduzir a profundidade do relacionamento por causa da distância. Mesmo longe, há formas de estabelecer contato, partilhar alegrias, dificuldades e aprendizados.
Ao conhecer novas formas de se relacionar, é fundamental estar disposto a ser prático, pois, a cada embarque, pode-se perder o convívio diário, contudo também existem inúmeras possibilidades de gerar laços afetivos no outro país.
Definição de “lar”: A compreensão do que é, de fato, “lar” não se restringe somente ao imóvel em que alguém reside, mas também à capacidade de se conectar com as pessoas, ainda que elas estejam longe. Nesse sentido, a ideia de “lar” tem mais ligação com “afeto” do que com “espaço”. Além disso, “lar” também tem correlação como a totalidade do ser, a essência de cada um.
O sentido de pertença: Ao dialogar com outras culturas de forma mais intensa, o indivíduo pode se sentir inadequado por não se encaixar totalmente à cultura local: língua, cosmovisão, comportamento etc. No entanto, essa experiência pode adquirir outro contorno quando o filho de terceira cultura passa a desfrutar simplesmente o “estar” e não o “pertencer”, maximizado o investimento em pessoas, no trabalho e no aprofundamento cultural e espiritual.
Potencializando a vivência transcultural no serviço ao Reino de Deus: Apesar de vivenciar vários desafios relacionados à identidade, o filho de terceira cultura descobre o seu valor — de onde é e aonde vai — a partir de uma única identidade: a graça comum a todos os cristãos. A fé em meio às dificuldades possibilita o experimentar da graça de Deus de formas distintas e inovadoras. Isso lhe dá forças e uma maravilhosa perspectiva em relação à vida e ao chamado de Deus para ele e sua família.
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Participantes:
Arlete Castro: Missionária Sepal e coordenadora da área de Cuidado e Integral dos Missionários Transculturais. Mora em Portugal há 27 anos.
Mark Carpenter: Presidente da Editora Mundo Cristão, filho de missionários norte-americanos. Mark chegou ao Brasil ainda na infância e viveu quase toda a sua vida no País.
Natália Bandeira: Biomédica, esposa e mãe. De família missionária, Natália saiu do Brasil aos 14 anos, morou na Inglaterra e em Portugal. Retornou ao Brasil aos 18 anos, e hoje mora em Portugal com sua família.
Thiago Moreira: Empresário, presidente do Instituto Radar Brasil, especialista em Psicologia Multicultural. Thiago é de família missionária. Ele saiu do Brasil aos 4 anos e retornou já adulto, após morar na Holanda, nos Estados Unidos e na Áustria.
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