Em bate-papo com Arlete Castro, Mark Carpenter, Natália Bandeira e Thiago B. Moreira filhos de missionários, falam sobre os desafios de viver fora de seu país de origem  

Por Fabrícia Oliveira

 

For privacy reasons YouTube needs your permission to be loaded.
I Accept

Com o intuito de mostrar algumas das realidades pertinentes à experiência transcultural, Arlete Castro, missionária e coordenadora da área de Cuidado Integral dos Missionários Transculturais da Sepal, liderou no início deste mês um bate-papo com Mark Carpenter, Natália Bandeira e Thiago B. Moreira, convidados que têm algo em comum: todos são filhos de missionários e viveram em países diferentes do que eles e/ou seus pais nasceram, experimentando, assim, o que se denomina: “terceira cultura”.

Dentre os assuntos discutidos na live, Arlete, Mark, Natália e Thiago compartilham histórias, trocam insights e falam sobre os efeitos do diálogo e da vivência entre culturas  na formação da identidade, no senso de pertencimento e na capacidade de enfrentar novos desafios.

Arlete Castro, condutora da conversa, escreveu a tese de mestrado Filhos de Terceira Cultura: Autoestima, Resiliência e o Impacto na Identidade e no Sentido de Pertença”, a dissertação de mestrado reúne informações sobre a experiência de quem vive ou viveu fora de seu país de origem. De cunho analítico, e com base em pressupostos teóricos, a obra tem por objetivo identificar como a vivência intercultural impacta a vida dos “filhos de terceira cultura” (FTC).

Confira, a seguir, um breve resumo do vídeo:

Ser e crescer entre culturas: Ao tratar do significado de pertencer a duas culturas ou mais, os convidados ressaltam que é fundamental reconhecer que o “filho de terceira cultura” nunca será parte totalmente integrada de sua cultura natal, mas sim de todas a que vivenciou ao morar em diferentes países.

O assunto implica uma pré-disposição a mudanças em meio à falta de compreensão das pessoas em relação à identidade do estrangeiro e ao novo cenário que ele está vivenciando. Além de não ser uma tarefa fácil, aceitar essa identidade multicultural exige autoconhecimento e a construção de valores, o que tornará possível a integração a grupos distintos, porém fazendo uso de seus próprios termos.

Impactos na identidade: De acordo com os participantes, em meio à experiência transcultural ocorre uma troca de paradigmas no que se refere à visão de mundo e à maneira de enxergar o próprio país de origem. Surgem críticas negativas e positivas sobre o país deixado. Nisso, conjugam-se também as memórias, a nostalgia e a saudade.

Com a adaptação — um processo paulatino —, surge a consciência intercultural: mescla da aceitação com novos valores. Ao entender os impactos do ambiente na identidade do indivíduo, é possível lidar com os paradoxos multiculturais com mais flexibilidade.

Relacionamentos profundos em meio a contextos diluídos: Vínculos significativos podem sobreviver a distância. Nesse ponto, independentemente da proximidade geográfica e física, a saudade tem o potencial de fortalecer ainda mais a conexão, trazendo uma nova visão do valor de cada fração de segundo em que o contato é possível.

No que se refere aos amigos, não é preciso reduzir a profundidade do relacionamento por causa da distância. Mesmo longe, há formas de estabelecer contato, partilhar alegrias, dificuldades e aprendizados.

Ao conhecer novas formas de se relacionar, é fundamental estar disposto a ser prático, pois, a cada embarque, pode-se perder o convívio diário, contudo também existem inúmeras possibilidades de gerar laços afetivos no outro país.

Definição de “lar”: A compreensão do que é, de fato, “lar” não se restringe somente ao imóvel em que alguém reside, mas também à capacidade de se conectar com as pessoas, ainda que elas estejam longe. Nesse sentido, a ideia de “lar” tem mais ligação com “afeto” do que com “espaço”. Além disso, “lar” também tem correlação como a totalidade do ser, a essência de cada um.

O sentido de pertença: Ao dialogar com outras culturas de forma mais intensa, o indivíduo pode se sentir inadequado por não se encaixar totalmente à cultura local: língua, cosmovisão, comportamento etc. No entanto, essa experiência pode adquirir outro contorno quando o filho de terceira cultura passa a desfrutar simplesmente o “estar” e não o “pertencer”, maximizado o investimento em pessoas, no trabalho e no aprofundamento cultural e espiritual.

Potencializando a vivência transcultural no serviço ao Reino de Deus: Apesar de vivenciar vários desafios relacionados à identidade, o filho de terceira cultura descobre o seu valor — de onde é e aonde vai — a partir de uma única identidade: a graça comum a todos os cristãos. A fé em meio às dificuldades possibilita o experimentar da graça de Deus de formas distintas e inovadoras. Isso lhe dá forças e uma maravilhosa perspectiva em relação à vida e ao chamado de Deus para ele e sua família.

Gostou do assunto?

Assista ao vídeo na íntegra e compartilhe!

Participantes:

Arlete Castro: Missionária Sepal e coordenadora da área de Cuidado e Integral dos Missionários Transculturais. Mora em Portugal há 27 anos.

Mark Carpenter: Presidente da Editora Mundo Cristão, filho de missionários norte-americanos. Mark chegou ao Brasil ainda na infância e viveu quase toda a sua vida no País.

Natália Bandeira: Biomédica, esposa e mãe. De família missionária, Natália saiu do Brasil aos 14 anos, morou na Inglaterra e em Portugal. Retornou ao Brasil aos 18 anos, e hoje mora em Portugal com sua família.

Thiago Moreira: Empresário, presidente do Instituto Radar Brasil, especialista em Psicologia Multicultural. Thiago é de família missionária. Ele saiu do Brasil aos 4 anos e retornou já adulto, após morar na Holanda, nos Estados Unidos e na Áustria.

Leia também:

O alcance do Senhor na Itália em crise: René e Sarah Breuel

Romênia: O reino de Deus avança em meio à pandemia

Espanha: Beth e Eveny Bourguignon e o Deus cuidadoso