Por Luane Souto e Phelipe Reis
As plenárias e palestras do Encontro Sepal 2020 abordaram tópicos relacionados ao tema central do evento: “Vida na vida: na contramão dos relacionamentos líquidos”. O teólogo Guilherme de Carvalho falou sobre como a igreja cristã pode encarar o cenário atual, como ameaça ou oportunidade.
Desde o início da quarentena, com o distanciamento social devido à covid-19, a maioria das nossas atividades passaram a ser realizadas virtualmente, inclusive as atividades da igreja, como os cultos e reuniões. Diante disso, surgiu a discussão sobre a participação em cultos online, entre os que se recusavam a fechar as portas da igreja temporariamente e os que passaram a concentrar seu ministério na internet.
De acordo com Guilherme de Carvalho, a igreja precisa perguntar-se quais são as oportunidades que Deus nos dá nesse tempo de instabilidade e crise. “Ameaça e oportunidade caminham juntas. Cabe à igreja olhar em volta, perceber as necessidades e decidir agir com as ferramentas disponíveis”, afirma.
Na prática, a questão envolve alguns pontos que exigem atenção. A popularização de cultos online, por exemplo, pode dar a entender a substituição dos encontros físicos. Nesta hora, o cristão precisa se atentar ao DNA relacional do evangelho e pôr em prática o equilíbrio. Carvalho alerta sobre o risco de a igreja se perder no ambiente virtual e deixar de dar importância ao encontro físico. O que seria ignorar o tipo de relacionamento que o próprio Deus mostrou que faz questão, pois “o verbo se fez carne e habitou entre nós”.
Citando o filósofo canadense Charles Taylor, Guilherme explica a sociedade tem focado cada vez mais na felicidade individual, como uma prioridade e busca incessante. Por outro lado, a igreja é feita para olhar e cuidar do outro, e não de si mesma. O teólogo destaca que a vida em comunidade é indispensável e não deve ceder à liquidez, e acrescenta: “Liberdade religiosa e fluxo acelerado de informações são condições necessárias que ajudamos a construir para a expansão do evangelho. Agora temos que assumir os riscos.”
Os riscos do ambiente digital
Imersas no ambiente virtual para desenvolverem suas atividades, as igrejas precisam estar atentas a algumas questões que podem representar riscos. Guilherme pontou:
- Nas reuniões online experimentamos que é possível cultuar virtualmente, mas a igreja deve estar atenta para não desencarnar.
- No ambiente digital o alcance é maior, mas há pessoas que estão tão endurecidas que nem mesmo o vasto cardápio de mensagens consegue alcançá-las, apenas o relacionamento.
- A igreja deve mesmo estar nas redes sociais e em todos os lugares possíveis para a evangelização. A internet tem sua importância, mas é preciso identificar e estabelecer os limites.
- Cabe à igreja continuar alcançando longe e cuidando de quem está perto.
*Este conteúdo foi extraído do Encontro Sepal 2020 on-line