Conheça alguns cases
A presença e atuação da igreja no espaço virtual se dá com desafios e oportunidades singulares. A inovação e a tecnologia têm um papel crucial a desempenhar no ministério e na missão da igreja. Josh Laxton, coordenador de Lausanne para a América do Norte no Wheaton College, diz que “o ministério da igreja não pode ser construído fora de uma compreensão missional de Deus e do que ele está realizando no mundo. Qualquer igreja que busca ser um veículo missionário de Deus que compartilha e mostra o evangelho do Rei Jesus será inevitavelmente um “corpo” que representa e reflete uma visão do reino de Deus por meio de indivíduos, expressões corporativas e organizações institucionais. Essa visão está fadada a incluir inovações.”
As igrejas podem criar, adotar ou integrar inovações e / ou tecnologias mais recentes que aumentem sua formação missionária como povo de Deus. Isso pode significar a utilização de plataformas digitais para discipulado e missão, adotando ou experimentando diversos métodos ou modelos de plantação de igrejas ou pequenos grupos, integrando técnicas inovadoras para alcançar e falar a um público mais pós-cristão.
Nick Hall é um evangelizador especialista em ambientes digitais. Ele diz que “nunca houve um momento melhor para compartilhar o evangelho. Temos os melhores canais de distribuição do mundo para a melhor mensagem do mundo, modelada pelo melhor Salvador do mundo.”[i]
Hall afirma que no contexto global, o desenvolvimento tecnológico configura um cenário muito propício para tornar o evangelho disponível para as pessoas ao redor do mundo, de uma forma como nunca aconteceu antes. Segundo ele, gastamos em média 3 horas e 43 minutos em nossos telefones diariamente – o que equivale a mais de 24 horas por semana ou 57 dias de um ano. Por isso, a pergunta de Hall: “O que estamos fazendo para alcançar as pessoas onde elas estão?”
Exemplos práticos de inovação tecnológica entre missionários da Sepal
Imagine uma plataforma de streaming com conteúdo cristão para alcançar as pessoas com a mensagem do evangelho durante a pandemia. Agora, imagine um e-book personalizado, com fotos profissionais de alta qualidade, contando a história da Páscoa de um jeito específico para surfistas. Visualizou? Esses dois casos são reais.
A plataforma de streaming foi criada por René Breuel, missionário da Sepal e pastor da Igreja Hopera, em Roma, Itália. “Percebi que não-cristãos muitas vezes ficam mais à vontade de explorar algo online, antes de visitar uma igreja pessoalmente. Pensamos que seria útil criar uma plataforma semelhante a Netflix para mostrar o nosso conteúdo em modo fácil e ajudar as pessoas a descobrir, crescer e compartilhar a fé online. Exibimos cultos, sermões, músicas de louvor, conversas, cursos de discipulado e testemunhos. Incluímos guias de estudo para facilitar a criação de novos grupos também”, conta Breuel. Você pode visualizar a plataforma clicando aqui.
O e-book para surfistas foi criado por Marcelo Ferreira, professor, surfista há quase 30 anos e missionário da Sepal em Portugal. Intitulado “A Semana Mais Casca Grossa de Todos os Tempos” se destaca pelas impressionantes imagens, que foram cedidas pela Sea Salt Surfboards, e especialmente pelo texto com um vocabulário contextualizado ao público do surf. Inclusive, algumas palavras e expressões só quem é do surf consegue compreender. O e-book está disponível gratuitamente em sete idiomas. Vale a pena conferir e compartilhar. Acesse aqui.
Inovação e tecnologia aliadas para a missão
A tecnologia foi uma das áreas que mais ficou em evidência desde o início da pandemia global de Covid-19. Muitas igrejas que nunca tinham utilizado a internet para atividades se viram forçadas a migrarem rapidamente para o digital. Diante do cenário, houve reações diversas entre pastores, líderes e missionários. Alguns ficaram apreensivos porque não sabem inovar. Outros indignados porque não acham que a igreja precisa ser inovadora. Alguns em êxtase porque estavam apenas esperando uma oportunidade para inovar. E aqueles que teimaram porque não acreditam que precisam inovar. Em que grupo você se enquadra?
Josh Laxton defende que a igreja deve estar ativamente envolvida na inovação no que se refere ao ministério e missão[ii]. Laxton acredita que, de acordo com a ordem de Deus em Gênesis, os seres humanos não apenas deveriam “ser frutíferos, multiplicar-se e encher a terra”, mas também “subjugar” a terra e isso significa, na visão dele, que Deus ordena que a humanidade pegue as matérias-primas e as aprimore. Ele acrescenta: “O desenvolvimento das matérias-primas inclui inovação e tecnologia. Inovações são as novas ideias, bens, mercados, metodologias, estruturas, etc., que levam ao desenvolvimento de novas tecnologias (ferramentas) que tornam as inovações possíveis.”
Na percepção do missiólogo, tanto as inovações quanto as tecnologias podem gerar uma multiplicação da “boa” criação de Deus e, portanto, o florescimento total (shalom) do mundo. Como resultado, a humanidade acabaria cultivando uma cultura enraizada na glória de Deus para o bem da criação.
É preciso pontuar que, embora o pecado tenha distorcido o mandato da criação, Jesus – por meio de sua morte e ressurreição está redimindo todos os aspectos da criação e do que significa ser humano. Aplicando esse conceito às igrejas, Laxton afirma que “quando as igrejas falham em inovar e/ou alavancar a tecnologia que melhoraria a vida – que aumentaria o ministério e a missão – elas perdem a oportunidade de refletir uma visão mais completa do reino de Deus inaugurado por Jesus.”
Missionários como “Criativos Digitais”
No livro “Digital Creatives and the Rethinking of Religious Authority” (em tradução livre “Criativos Digitais e o Repensar da Autoridade Religiosa”), Dra. Heidi A. Campbell discorre como os criativos digitais e os especialistas em mídia digital que trabalham nas igrejas estão desafiando as noções tradicionais no ambiente da era digital.
A autora usa o termo “criativos digitais religiosos” (RDCs) e explica que pode se referir a um universo de profissionais que abrange desde designers de tecnologia que criam sites ou plataformas para formas inovadoras de ministério, ou indivíduos que se envolvem principalmente com plataformas de mídia estabelecidas, produzindo conteúdo criativo e exclusivo focado em tópicos específicos destinados a educar, inspirar ou desafiar sua comunidade de fé.
Campbell resume dizendo que empreendedores digitais geralmente são profissionais da mídia que usam suas habilidades para servir à missão de sua comunidade de fé, igreja ou organização missionária. A estudiosa faz um importante comentário sobre o uso e o desenvolvimento de tecnologias na evangelização e missão:
“No século XXI, muitas organizações missionárias cristãs ainda focam sua atenção no treinamento de indivíduos como plantadores de igrejas, pastores, professores bíblicos ou evangelistas itinerantes, preparando-os para compartilhar sua fé em uma nova cultura dentro de instituições e contextos religiosos estabelecidos. Ainda assim, há uma consciência crescente entre algumas organizações denominacionais e paraeclesiásticas com foco na missão sobre o papel que a mídia digital pode desempenhar, não apenas no treinamento de novos missionários, mas também na mudança na forma como o trabalho missionário é realmente realizado.”[iii]
Por que a igreja deveria inovar em tecnologia?
Não é suficiente incentivar pastores, líderes e missionários a investirem em inovação tecnológica em suas igrejas e ministérios. Não basta inovar por inovar ou porque outros estão fazendo. É fundamental entender os fundamentos teológicos e missiológicos da inovação. Josh Laxton, pontua algumas questões que merecem atenção: O que a palavra de Deus ensina sobre essa área? Por que queremos implementar inovação ou tecnologia? Essa inovação ou tecnologia distorceria nossa compreensão do que a palavra de Deus ensina? De que forma acreditamos que essa nova inovação ou tecnologia aumentará nossa capacidade de participar da missão de Deus? Os métodos, modelos ou estilos que estamos usando atualmente são as maneiras mais eficazes para equipar a igreja para o cumprimento da missão?
Vamos usar a tecnologia para unir as pessoas em torno do evangelho e de nossas vidas. A geração do milênio é chamada de “geração solitária” e 30% das pessoas entre 23 e 38 anos dizem que se sentem solitárias “frequentemente” ou “sempre”. Por todo o tempo que passamos olhando para nossos telefones, as pessoas ainda têm uma necessidade premente de conexão humana e comunidade. E se usássemos a tecnologia para aproximar as pessoas? Isso começa com cada um de nós. Não podemos esquecer o tesouro que temos. O evangelho é a maior mensagem já dita à humanidade. São boas notícias – e o mundo precisa desesperadamente de boas notícias.
Por Phelipe Reis | Jornalista e colaborador de conteúdo para o site Sepal.