Por Phelipe Reis

Crise vem do latim crĭsis, is, e significa momento de decisão, de mudança súbita. Na medicina, diz respeito ao momento que define a evolução de uma doença para a cura ou para a morte. Em economia, é a fase de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão (Houaiss).

Tem sido uma palavra muito recorrente em nossos tempos, marcados por uma instabilidade política, econômica, social e de saúde pública, nos últimos meses. Como os pastores e líderes lidam com a crise? Como dirigir as igrejas locais neste contexto? Como discernir o momento de dar o passo para as mudanças?

Segundo o pastor Josué Campanhã, em meio à crise causada pela pandemia o líder tem que se fazer três perguntas: Vou mudar? Vou continuar o estágio de manutenção? Vou desistir? Na visão do pastor, os momentos de crise são os testes para se entender a soberania de Deus. “Não importa o que vai acontecer. O que importa é se você vai passar no teste de soberania”, afirma.

Nesta reflexão sobre “liderar em tempos de crise”, Campanhã lembra de alguns personagens bíblicos. Moisés, por exemplo, mudou com a mudança. Enquanto os israelitas viviam uma crise no Egito, ele estava quieto, trabalhando com o sogro. Deus estava vendo o povo precisando de libertação, por isso ele leva a crise até Moisés porque queria que ele liderasse naquela crise. Foi na crise que Moisés abriu os olhos e conseguiu enxergar o que Deus estava fazendo.

Quando as mudanças vêm na velhice? Foi assim com Abraão. Havia uma missão a ser cumprida: Deus precisava de uma família e convoca Abraão. Neste caso, o próprio Deus cria a crise e coloca Abraão no meio dela. Foi preciso Abraão mudar com a mudança e fazer coisas que nunca tinha feito: deixar o lugar que sempre morou, ter um filho aos 100 anos ano de idade e conquistar uma terra. A missão tinha uma promessa, mas isso exigia mudanças.

Os apóstolos, Pedro e Paulo, também tiveram que lidar com mudanças radicais. O primeiro teve que mudar além dos seus limites para levar o evangelho aos gentios. O segundo precisou romper com o sistema religioso, para ser, posteriormente, um grande líder para a igreja que perseguiu no passado. Os dois foram usados na missão, mas tiveram que encarar e se submeter às mudanças.

Ester foi outro bom exemplo de postura diante da crise. Ela estava tranquila como rainha até Deus levar a crise a ela, que precisou não apenas mudar, mas arriscar a própria vida para salvar o seu povo. Diante dela estava a escolha de cuidar dos seus próprios interesses ou interceder pelos seus. Ester decidiu liderar em meio à crise e não ser engolida por ela.

Observando esses exemplos bíblicos, Josué Campanhã diz que todos a quem Deus chama precisam lidar com mudanças e mudar mesmo em meio às crises, pois “missão e crises andam juntas”, diz ele. Na visão do pastor, crises são alavancas de Deus para levantar líderes para a missão.

Campanhã faz ainda um alerta a quem reclama o fato de muitas igrejas não estarem realizando atividades presenciais em seus locais de culto comunitário: “Não tente recuperar algo que talvez nunca deveria ter existido. Não interessa se o shopping ou os aviões estão cheios, o que importa é se sua igreja entendeu a missão. Talvez Deus tenha que deixar a igreja fechada mais tempo para que você entenda a missão.”

* Artigo baseado na palestra de Josué Campanhã, no Encontro Sepal 2020.
** Phelipe Reis é jornalista e colaborador de conteúdo para a Sepal.