A reabertura de igrejas e o retorno de suas atividades no período de pós-isolamento estarão no meio de uma nova “normalidade” da sociedade, com a presença contínua da Covid-19. Despois de vários meses fechadas, as igrejas terão a oportunidade de simplesmente retomar certas atividades enquanto outras vão sofrer mudanças. Vamos refletir sobre o modelo do ministério de Jesus e aquele da igreja do Novo Testamento, e considerar como os ministérios serão afetados com esta nova normalidade no período pós-isolamento.

A. Um modelo simples de ministério no Novo Testamento

O período de isolamento no Brasil durou por vários meses, com os comércios e espaços públicos fechados com o objetivo de proteger a população contra contaminação da Covid-19. Reuniões públicas, assim como igrejas, foram proibidas ou restritas. Para alguns pastores, essa experiência de isolamento foi tão emocionante quanto subir uma montanha. De repente, líderes encontraram tempo para suas famílias, tempo para ler e escrever livros, e tempo para planejar o futuro. Para outros líderes, o período de isolamento era como dirigir seu carro em um túnel escuro, só para bater contra algum objeto que apagou o motor e as luzes. Seja qual for a metáfora, antes de descer da montanha, ou sair do túnel, é um bom momento para rever o manual do condutor e fazer uma revisão de seu veículo, seus freios e luzes, antes de continuar a viagem. Vamos considerar uma descrição do modelo de Jesus em Mateus 9 e da primeira igreja em Jerusalém em Atos 2 para identificarmos alguns elementos de ministérios que devem estar presentes em nossos ministérios hoje.

Em Mateus 9.35-38 temos uma descrição das atividades e motivações de Jesus sobre como ele avançou em seu ministério. Há uma descrição do ministério de Jesus que é bela por sua simplicidade. Vamos focar em três palavras que descrevem seu ministério: inclusivo, extensivo e participativo.

O ministério de Jesus foi inclusivo porque ele incluiu em seu campo de atuação as cidades e os povoados, com uma mensagem que alcançava os moradores da cidade e áreas rurais. Sua linguagem e seu estilo permitia que todos o entendessem. Jesus introduzia sua mensagem na sinagoga e entre as multidões. O apóstolo Paulo, em Atos 20.20, descrevia seu ministério estando “publicamente e de casa em casa”.

O ministério de Jesus foi extensivo, pois ele não limitava seu estilo apenas à pregação. Jesus pregava uma mensagem simples do amor de Deus e da vinda do Reino de Deus entre nós. Ele se dedicava a ensinar e demostrar as implicações deste Reino no dia a dia dos discípulos e usava perguntas para convidar as pessoas a interagir com seus ensinamentos e se envolverem em uma demonstração prática do Reino. O modelo de Jesus incluía a diaconia (serviço) na forma de curar os doentes e expulsar os demônios (Mt 9.35).

O modelo de ministério de Jesus foi participativo ao ser movido pela compaixão em ver as multidões como ovelhas aflitas e exaustas. Jesus convidava seus discípulos para responder igual a ele e orar ao Pai para que enviasse mais trabalhadores a uma grande seara (38). Jesus apresentou seu ministério como um convite para outros serem incluídos a participar. Depois da oração, Ele enviou os doze para ministrar exatamente como Ele, com a autoridade e em seu nome (Mt 10.1).

As características da primeira igreja que se formou no dia de Pentecostes também refletiam as mesmas características do ministério de Jesus. Veja como os discípulos entenderam o ministério da igreja em Atos 2.42-47 sendo inclusivo, extensivo, e participativo. Aqui no texto você pode sublinhar as palavras que identifiquem algumas das atividades e atitudes que caracterizavam esta igreja nascente.

E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente, perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos (Atos 2.42-47).

A igreja em Jerusalém começou inclusiva com o acréscimo de três mil novos convertidos (2.41), muitos deles eram visitantes na cidade para a festa de Pentecostes. Cada um ouvia a mensagem do Evangelho em sua própria língua (2.8). Os discípulos estavam vendo o cumprimento das palavras de Jesus em Atos 1.8, pois eles seriam suas testemunhas até os confins da terra naquele dia de Pentecostes. Embora a igreja em Atos tenha demorado para entender o seu papel para ser inclusiva (6.1, 8.1, 10.28), esse valor é certamente uma marca saudável da igreja novo testamentária.

Desde seu começo, a igreja de Jerusalém também entendeu seu ministério de ser extensivo. Os discípulos pregavam, ensinavam e atendiam as necessidades de sua comunidade. O Reino de Deus foi declarado em palavras e ações que ilustravam o poder transformador do Evangelho. Não houve uma separação artificial entre a pregação do evangelho e atenção com necessidades materiais na igreja e na comunidade (2.44, 4.32-33, 11.28).

No último versículo de Atos 2 encontramos uma declaração fantástica. A igreja reunida louvava a Deus e “contava com a simpatia de todo o povo” (v. 47). A igreja de Jerusalém encontrou uma maneira de cair nas simpatias das pessoas na comunidade geral. Para mim, isso é resultado de um modelo de ministério participativo. Os membros da igreja estavam envolvidos na vida diária das pessoas de tal forma que o resultado foi que “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”.

B. A pandemia está mudando o paradigma de ministério das igrejas evangélicas

Alguém pode estar questionando se a reabertura de igrejas no período pós-isolamento significaria que as coisas vão ser diferentes de quatro ou cinco meses atrás. Por que não podemos simplesmente continuar com os mesmos modelos de ministério como antes da pandemia?

A resposta desta pergunta se encontra no fato de que essa pandemia causou uma parada chocante às atividades no mundo inteiro. O modelo de como as coisas funcionavam parou. As igrejas com seus modelos de ministério pararam. O paradigma das igrejas mudou.

Existe um provérbio popular que diz, “quando um paradigma muda, todos voltam para uma estaca zero”. Com a pandemia, as igrejas pararam e o paradigma mudou para cultos on-line e atividades pastorais à distância. O recomeçar ou reabrir os ministérios agora está complicado pela presença contínua do Covid-19, e possível contágio de pessoas de alto risco com comorbidades. Aplicando este provérbio à situação de nossas igrejas significa uma oportunidade de voltar para alguma “estaca zero” e começar com novas práticas e motivações. A estaca zero para ministério na igreja deve ser o modelo de Jesus, e o modelo da igreja em Atos.

Para alguns líderes, sugerir mudanças drásticas neste momento soa como uma tremenda ameaça. Alguém deve estar pensando que seria mais simples reabrir a igreja e retomar às atividades assim como eram. As coisas antes da pandemia estavam andando mais ou menos bem, então por que balançar nosso barco? Essa é uma decisão importante que a pandemia agora nos apresenta. Como vamos responder?

  • Quanto tempo você vai precisar para conversar com os líderes de sua igreja sobre este novo momento de seu ministério?

    Quais são os novos desafios que seu ministério está preparado para assumir em sua comunidade ou cidade?

  • Qual é a visão de Deus para sua igreja ou ministério neste novo momento de reabrir sua igreja? O que é preciso alinhar com os ministérios e membros para melhor seguir esta visão?
  • Ao reabrir sua igreja ou seu ministério, quais são as áreas de ministério que podem ser simplificadas ou recriadas segundo o exemplo de Jesus, em Mateus 9, e os discípulos, em Atos 2?

Esperamos que essas poucas linhas o ajudem em suas reflexões. Até breve!

Douglas Lamp | Equipe Sepal Nordeste | [email protected]