Quem está disposto a abrir mão das férias para servir num projeto missionário de curto prazo na Amazônia ou no sertão? Para muitos, a ideia pode parecer nada atrativa, mas há muita gente que abre mão das férias para embarcar num projeto missionário de curto prazo neste período. Inclusive, enquanto você lê este texto, pessoas estão arrumando as malas para participarem de uma viagem missionária em lugares inóspitos.

Ações como estas,  não são novas e os projetos não são poucos. Há muitas oportunidades promovidas por igrejas e organizações missionárias em diversos lugares dentro e fora do Brasil. O missionário Felipe Fulanetto, em artigo disponível no site do Centro de Reflexão Missiológica Martureo, explica que as viagens missionárias de curto prazo surgiram entre 1946 e 1960, época de grande entusiasmo evangelístico dos jovens cristãos nos Estados Unidos. Fulanetto descreve: “Essas viagens lhes pareciam mais atraentes do que abraçar uma vida missionária de carreira logo de início. Duas organizações missionárias em particular, Jovens Com Uma Missão (JOCUM) e Operação Mobilização (OM), moldaram a práxis e a teologia desse movimento.”

Há diversos modelos de viagens missionárias de curto prazo e inúmeras estratégias utilizadas. Podem ser focadas na manutenção e construção de igrejas, assistência social em comunidades em situação de vulnerabilidade, atendimentos na área médica e odontológica, evangelismo pessoal, esporte e lazer, entre outros. O tempo de duração também varia, podendo ser de dias, semanas ou alguns poucos meses.

Quem embarca num desses projetos pode ter uma experiência radical de mudança de vida, inclusive pode nem mais querer voltar para casa. Para as igrejas e comunidades que recebem equipes, os benefícios são diversos, desde construções, plantação de igrejas e atendimentos médicos gratuitos, por exemplo.

A relevância e os frutos são notórios, seja para os participantes, para as igrejas que enviam e recebem e para as organizações que promovem. Conversamos com Sérgio Ribeiro, da Missão Juvep, e Raul Ribeiro, do Instituto Livres, para abordarmos com mais detalhes esses benefícios. Com eles, que possuem larga experiência com projetos missionários no nordeste brasileiro, também falamos sobre aspectos que nem sempre são abordados: os perigos e os desafios que podem, em alguns casos, comprometer o êxito dos empreendimentos.

Foi uma rica conversa com orientações e dicas que podem servir a todos que se envolvem nesses projetos, (igrejas e voluntários) de modo que mais pessoas sejam despertadas para missões, que o evangelho continue sendo proclamado e a Igreja coopere com a missão de Deus no mundo. Confira o bate-papo.

Quais os benefícios e os perigos para a igreja que envia pessoas para participarem desses projetos?

Sérgio Ribeiro – Missões de curto prazo existem desde o Velho Testamento e um exemplo clássico é o do profeta Jonas. Jesus também enviou seus discípulos a viagens missionárias de curto prazo, veja Lucas 10. Missões de curto prazo tem amparo bíblico e a história mostra sua relevância e bons frutos.  A igreja que se envolve em projetos de curto prazo terá o benefício de ver seus membros fortalecidos na visão missionária, na prática da evangelização (se o projeto enfatiza a evangelização pessoal) e fortalecidos na sua experiencia pessoal com Deus. O grande perigo é a igreja achar que enviar pessoas ou equipes para projetos de curto prazo é o suficiente. Não é. O que Deus espera de cada igreja local é que seja enviadora e sustentadora de missionários de longo prazo.

Raul Ribeiro – Para a igreja, um dos principais benefícios está relacionado com a questão financeira, tendo em vista que são projetos que não exigem um custo alto e contínuo. Um dos perigos é quando a igreja local possui uma visão limitada, que olha apenas para si, e que pode fazer com que se perca a amplitude e a importância da Grande Comissão.

Quais os benefícios e os perigos para quem participa de uma viagem missionária de curto prazo?

Sérgio Ribeiro – São muitos os seus benefícios: cultivar amor pelos perdidos, aprofundar a visão das necessidades do mundo perdido em vários e diferentes contextos, aprimorar a prática da evangelização pessoal e do pré-discipulado, ganhar vidas para Cristo, vivenciar milagres divinos no campo missionário, colaborar com o missionário e seu campo, entre outros. Nos Projetos Missionários de Férias que a Missão Juvep realiza anualmente, vemos que 10% dos voluntários se dedicam a missões no médio ou longo prazo, posteriormente. Quando o trabalho não é bem planejado e a equipe não recebeu o preparo prévio e as orientações adequadas, o perigo é causar dificuldades para o missionário que está em campo. Sabemos de viagens de curto prazo que foram um desastre! E tem equipes que causam problemas dos quais nem ao menos percebem ou aceitam, quando são confrontadas.

Raul Ribeiro – Normalmente, os participantes vêm com muita disposição e com o coração voluntarioso. Com relação aos perigos é que em não conseguem se desvincular de suas rotinas da cidade natal. Também existe uma quebra de vínculo pelo fato de se relacionarem com as pessoas da cidade que estão executando a missão. Sempre digo que temos que deixar Deus fazer o que Ele quer fazer através de nós, e não atrapalhar a missão que é do Senhor.

Quais os critérios que as igrejas precisam considerar ao enviarem pessoas para projetos dessa natureza?

Sérgio Ribeiro – Projetos de curto prazo não são reformatórios para crentes problemáticos. As igrejas locais só devem enviar para projetos de curto prazo quem é um bom crente na igreja local e que a liderança conheça bem. Entre outros requisitos, a Juvep exige idade mínima, tempo mínimo de membresia, saúde física, emocional e maturidade espiritual compatíveis com o trabalho a ser desenvolvido. Convém salientar que portadores de deficiências físicas podem e devem participar de projetos de curto prazo – poderão ser excelentes voluntários.  É importante observar o que cada projeto exige para seus voluntários. É imprescindível que a igreja local conheça satisfatoriamente a organização parceira que gerencia o projeto e ter certeza de sua seriedade, princípios, competência e estrutura.

Raul Ribeiro – Com relação aos participantes é tentar ao máximo ver a seriedade do participante com a vocação, pois não é uma viagem de férias e sim uma missão que foi dada por Cristo. Verificar se o participante é submisso aos seus líderes da igreja local, se ele é dentro da sua igreja local normalmente ele será na missão. Sobre os projetos é verificar se existe veracidade, se existe um plano de trabalho, se existe uma prestação de contas do projeto (site, imagens, vídeos, documentos, etc.). Procure saber nas redes sociais e também com a própria organização sobre o projeto.

Quais orientações você poderia compartilhar com quem deseja participar de missões em curto prazo?

Sérgio Ribeiro – É fundamental conhecer bem a organização que promove o projeto (organizações de uma teologia e missiologia saudáveis, com líderes maduros e bom gerenciamento), ter boas indicações de quem já participou. Eu recomendo projetos que tenham ênfase na evangelização pessoal, que ofereçam treinamento adequado nos primeiros dias, que cuidem da vida espiritual dos participantes e que estejam bem atrelados a projetos missionários de longo prazo.

Raul Ribeiro – Oriento orar muito ao Senhor e pedir para ser algo sobrenatural. Vir com o coração disposto a entender a cultura local. Saber que existem estratégias, formas e jeitos de como conversar e não tentar “aculturar” os moradores locais com a “sua” cultura de igreja local e também do lugar de onde você vem. É importante estar aberto e submisso à liderança dos projetos.

A quais questões devem ficar atentas as igrejas ou organizações que planejam receber equipes de curto prazo?

Sérgio Ribeiro – Um dos principais cuidados é que haja prévio e bom diálogo entre a igreja que envia equipes e quem vai recebê-las. Uma coisa é receber um ou dois voluntários de uma igreja, outra coisa é receber equipes numerosas. Algo fundamental para o envio de equipes é prover um pré-treinamento na igreja local, além do treinamento que será dado em campo. E reafirmo: a igreja enviadora deve ter todo cuidado e bons critérios na seleção dos voluntários para enviar somente quem vai ser bênção no campo missionário.

Raul Ribeiro – Principalmente, saber a motivação daquela equipe missionária. Conhecer e alinhar as expectativas para ninguém sair frustrado, não ser constrangido com testemunhos desagradáveis. Vale sempre ficarmos alertas e lembrar que é um prazer servir ao Senhor em todo tempo e em qualquer lugar.

Como esses projetos de curto prazo contribuem para o cumprimento da missão?

Sérgio Ribeiro – Bem planejados e atrelados a projetos de longo prazo podem contribuir estrategicamente para o avanço do Evangelho em muitos lugares. Em contextos culturalmente próximos, pode colaborar decisivamente para o plantio de novas igrejas e para colaborar positivamente com missionários de carreira. Por exemplo, os projetos de férias que a Juvep realiza tem colaborado para o plantio de igrejas no Sertão Nordestino, em municípios pouco evangelizados, desde a década de 1980. Muitas igrejas que plantamos foram pioneiras em seus municípios e ainda hoje dão frutos. Projetos de curto prazo também podem contribuir para a montagem de estruturas, como construção de templos, escolas, etc., como também no fortalecimento de projetos de transformação comunitária. Aproveito para encorajar igrejas locais e voluntários: vale à pena dedicar suas férias para colaborar com o avanço do evangelho no plantio de igrejas pioneiras ou no fortalecimento de campos missionários. Vale à pena a igreja local encorajar e ajudar seus membros a se voluntariem e integrarem equipes missionárias de curto prazo. Participe, envie, e tire suas próprias conclusões.

Raul Ribeiro – Acredito que esses projetos são de extrema importância. Os projetos de curto prazo são muito bons para o cumprimento da missão, já que continuamente temos missionários novos, com força renovadas e com muito empenho para a realização do cumprimento da missão. Hoje, podemos até continuar um discipulado à distância com o auxílio da tecnologia.


*Sérgio Ribeiro, missionário, presidente e fundador da Missão Juvep. Possui formação em Missões e é graduado em Engenharia pela UFPB. Trabalha com plantio de igrejas no sertão nordestino desde 1983.

*Raul Ribeiro, diretor do Instituto Livres, desde 2018 a frente de projetos sociais/evangelísticos como Mais Água, Impacto Sertão Livre, Livres Experience, todos no sertão nordestino, no estado do Piauí.

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