A cultura atual afeta os modelos e propostas para o discipulado cristão. Considere, por exemplo, a análise de Alan Roxburgh, no seu livro Igreja Missional. Segundo o autor, o racionalismo científico, assumiu que é possível controlar a vida através da manipulação do ambiente. É possível alcançar os resultados desejados através de técnicas específicas. Roxburgh continua,

Com as ferramentas e habilidades certas, é sempre possível terminar o trabalho. A técnica torna o inescrutável, examinável. O reino de Deus—convergindo a realidade opaca do discipulado envolto no mistério dos propósitos de Deus—é alcançável com sagacidade e ingenuidade humanas. em um ambiente não-cristão.[1]

Roxburgh está certo: a realidade misteriosa do discipulado está opaca e confusa. Temos a percepção de que há sempre uma técnica certa a ser usada para cumprir a missão da igreja. As conferências e seminários oferecem inúmeros métodos sobre “como fazer para …” (preencha o espaço em branco). Eles fornecem às igrejas as técnicas, habilidades e hábitos que nada diferem das empresas e outros grupos sociais. Ou seja, se tão somente utilizarmos as estratégias certas ou copiarmos os modelos daquela igreja ou participarmos naquela conferência encontraremos o segredo do sucesso.

Precisamos reconhecer que copiamos os modelos empresariais e clonamos as tendências culturais. É fácil verificar que muitas igrejas, tanto históricas quanto pentecostais, construíram modelos de discipulado e kits de treinamento (para células, pequenos grupos, etc) focados no recebimento de conhecimento e adoção de metodologias que focam no crescimento e nas habilidades para multiplicação. As estratégias do marketing e da franquia do “fast-food” ocupam as mentes dos líderes / empreendedores religiosos. Eles sonham acordados com o tipo de sucesso que enriquece e atrai a atenção da mídia. Esses são os ídolos da moralidade da classe média, diferente dos valores do evangelho, como por exemplo, autonegação, auto sacrifício e mortificação da carne.

Talvez esta seja uma avaliação injusta para a maioria das igrejas que estejam engajadas no treinamento de discipulado. A questão principal, entretanto, é o conteúdo do programa de treinamento e a medição de tal programa nas crenças e comportamentos do cristão. Discipulado que se concentra simplesmente na piedade sem ética social não é discipulado. Esses dois andam juntos. Tiago coloca de forma sucinta quando escreveu: então a fé sem atos está morta (Tiago 2:26).

Como disse Bonhoeffer, o discipulado é união com o Cristo sofredor (2002, p. 44). Os cristãos não contemplam Cristo de longe, fora de si mesmos, a fim de que sua justiça possa ser meramente imputada a eles como um caminho para os céus. Cristo concorda em se fazer um com eles. Eles são colocados em Cristo e enxertados em seu corpo. Por essa razão, os cristãos têm comunhão com Cristo e desfrutam de Deus. Isso leva a uma profunda inferência: o discipulado não depende dos próprios esforços, das estratégias e métodos, da disciplina, força de vontade e do trabalho duro dos crentes, embora isso tudo deva acontecer.

Para além da proclamação oral dos valores do evangelho existe a necessidade dos crentes se tornarem discípulos adultos, aprendizes de Jesus Cristo. Ao examinar cuidadosamente a nossa vida cristã e da comunidade híbrida, focalizemos a vida humana-divina, ativa-contemplativa de Jesus Cristo. Servimos como discípulos de Cristo, imitando e obedecendo seus princípios descritos nos evangelhos, por exemplo no grande Sermão do Monte? Temos prazer e alegria em fazer a vontade de Cristo? Estamos atentos e submissos à sua voz nos evangelhos e na dependência do Espírito? Os discípulos devem imitar o mestre. Essa é a tarefa essencial do discipulado e que personifica a missão da igreja: os cristãos devem ser parecidos com Jesus Cristo.

Rubens Muzio

Sobre o autor:

Missionário Sepal, conferencista e autor de o DNA da Liderança Cristã, o DNA da Igreja, o DNA da Vida Cristã, Vida Cristã, uma Jornada de Fé e Uma Jornada pela Humildade.
Mestre em Teologia pelo Calvin Seminary, em Michigan e Doutor em Teologia Pastoral pelo Westminster Seminary com validação pela PUC-Rio.


[1] Alan Roxburgh, “Missional Leadership: Equipping God’s People for Miss Missional Church: A Vision for the Sending of the Church in North Amer Darrell L. Guder (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), 198.