Como lidar com a rotina, os relacionamentos, as emoções e o futuro num contexto de crise global?

 Por Fabrícia Oliveira

 

For privacy reasons YouTube needs your permission to be loaded.
I Accept

Quais são os desafios que os pais enfrentam durante a quarentena? Como conciliar trabalho, estresse e as necessidades da família, sem deixar de lado a saúde emocional, o equilíbrio e o tempo para dar suporte aos filhos? Como driblar tensões e colaborar para que a casa seja um ambiente de ajuda mútua? E o que fazer quando um ente querido está distante justo num momento como este?

Para trazer respostas a tais perguntas, as psicólogas Arlete Castro, Ludmilla Brito e Iolanda Vera-Cruz se reuniram em um bate-papo dedicado ao tema “Pais em tempos de isolamento social”, veiculado no canal da Sepal no YouTube. Por meio da conversa, as profissionais abordaram alguns dos principais dramas que afetam os lares na atual conjuntura e deram conselhos oportunos para que pais e mães mantenham uma atmosfera de harmonia em meio ao contexto de crise. Abaixo, você confere um breve resumo do vídeo. Tome nota!

Casa: um lugar seguro

Em um curto espaço de tempo, as famílias foram extremamente afetadas por uma súbita transformação na rotina. Mudanças como isolamento, fluxo intenso de notícias, o corte abrupto do convívio com outras pessoas e, em circunstâncias mais extremas, a perda de entes queridos geram inquietação, o que afeta, naturalmente, o ambiente familiar.

Nesse cenário, deve-se considerar que o propósito da família é oferecer proteção, atenção e cuidado aos membros, o que, aparentemente, parece uma afirmação simples. Por que, então, surgem tantos conflitos em decorrência do confinamento?

Sob o ponto de vista de Ludmilla Brito, especialista em Análise Psicodramática e Transtornos Psicoemocionais da Adolescência, a família em si já tem em sua essência todos os recursos necessários para enfrentar um momento de crise: sua estrutura proporciona o ambiente perfeito para promover abrigo e refúgio, pois é composta de pessoas que “teoricamente” se amam.

“A família em si já tem em sua essência todos os recursos necessários para enfrentar um momento de crise: sua estrutura proporciona o ambiente perfeito para promover abrigo e refúgio.”

Ludmilla reforça a necessidade de resgatar os valores que sustentam o amor e a compreensão e estabelecer limites que coordenem a nova rotina, desenvolvendo uma organização que respeite o espaço de cada pessoa.

Como gerir trabalho e família?

Apesar de vivenciarem o contexto de isolamento social comum a todos de sua cidade, bairro ou país, cada família tem uma realidade diferente. Seja para quem tem o filho dentro de casa ou para quem o filho está em outro continente, é preciso gerir o estresse e lidar com a preocupação de forma positiva. Além do mais, para dar suporte à família, os pais precisam estar em condições mínimas, prestando atenção ao seu estado físico e emocional.

Nesse sentido, Iolanda Vera-Cruz, especialista em Psicologia Clínica, da Saúde e da Educação, que atualmente mora em Portugal, fala de sua experiência: cada uma de suas filhas está em cidades diferentes da Inglaterra, país em que o isolamento social foi tardio em comparação como os demais países europeus.

Diante da expansão da COVID-19, toda a família precisou definir medidas para manter a serenidade e o controle emocional durante a contingência. Levando em consideração a importância de respeitar o isolamento social, estabeleceram, em comum acordo, como seria o tempo de quarentena. Nele, promovem conversas e apoio emocional através de um intenso contato pelas redes sociais. “É preciso ter muita presença de espírito para manter a calma e encorajá-las”, diz.

Gestão das emoções

O ser humano é suscetível a diversos tipos de emoções. O problema é que nem sempre consegue discernir facilmente o que está sentindo. Geralmente, esse tipo de conflito — ou seja, a dificuldade de identificar os próprios sentimentos —, acomete as crianças, que tendem a mudar de comportamento, pois não conseguem verbalizá-los. Por sua vez, os pais precisam fazer a “escuta” dessas reações, para entender o que está acontecendo e ajudar o filho a compreender o que o aflige.

De igual modo, os adultos também podem apresentar sinais de desequilíbrio emocional refletidos em seu comportamento. Por isso, é fundamental conectar-se consigo mesmo e falar dos sentimentos, descrevendo o que está sendo vivido internamente, para, então, aprender a administrar as emoções.

De acordo com Arlete Castro, missionária da Sepal, mestre em Relação de Ajuda e Intervenção Terapêutica, explorar o autoconhecimento nos ajuda a gerir os momentos de crise. “À medida que nos conhecemos fica mais fácil fazer a leitura dos sentimentos e do entorno, transformando o ambiente de conflito num lugar mais saudável”, comenta.

Criatividade e capacidade de brincar

A brincadeira é uma expressão emocional. Ela serve para facilitar a socialização, o desenvolvimento cognitivo, físico e mental. Nesse tempo de reclusão, a capacidade lúdica é importante, pois permite à criança dar continuidade ao aprendizado e fazer uma leitura da realidade em que está inserida. Ao brincar, a criança pode partilhar medos, angústias e conflitos, trazendo significado à dor e à intranquilidade, diminuindo a tensão e transformando o negativo em uma representação positiva.

Algumas ideias:

  • Ter um espaço de recreação que viabilize a expressão corporal e criações artísticas, como pinturas, desenhos e práticas de reciclagem.
  • Organizar o tempo de “brincadeira livre” e o de “brincadeira ­­­­orientada”, na qual os pais podem trabalhar temas relacionados aos conflitos.

Sugestões de brincadeiras orientadas:

  • Baú de fantasias: roupas, chapéus e acessórios com os quais as crianças possam criar histórias e fazer filmagens para compartilhar com os familiares.
  • Conte o seu conto: a partir de uma frase, estimular a criança a contar uma história. O interessante dessa dinâmica é a possibilidade de ver as ideias, impressões e os medos dos pequenos refletidos na narrativa.
  • Simulação: propor situações e estimular a criança a refletir sobre sua reação diante de diferentes contextos: isolamento social, distanciamento dos amigos, aulas online Tal brincadeira tem o objetivo de fortalecer a resiliência.
  • Caixa criativa: incentivar a criatividade por meio do uso de cartolina, pincéis, revistas, massa de modelar, entre outros recursos.

Além de diversas dicas práticas, Arlete Castro, Iolanda Vera-Cruz e Ludmilla Brito deixam uma bela mensagem aos pais, aos missionários e às pessoas de todo o mundo, oferecendo-lhes uma palavra de encorajamento e fé.

Quer saber mais? Clique aqui e assista à live na íntegra!

Leia também:

Silenciar, meditar, orar e descansar

Aprendizados, vivências e desafios de um tempo de dor

Pastorado e a igreja a partir de 2020