Geração Digital com QI inferior ao dos pais, pela primeira vez na história, por causa da “orgia digital”, conforme Michel Desmurget, em entrevista à BBC (30/10/2020).

“Orgia digital?” Faz todo sentido, uma vez que as crianças são entregues aos desejos e imposições, não de si mesmas, mas do que vem de fora, e o que vem de fora, normalmente, é para alienar e subjugar. Afinal, o propósito não é o entretenimento pelo entretenimento, antes, porém, a venda e a dependência; a dependência e a venda.

Ora, se o acesso é tão fácil, e até “involuntário”, se tudo vem a nós, se há uma indústria que só quer vender e manipular, como seríamos ingênuos em pensar que não há o perigo de impurezas generalizadas, de desejos maus e da ganância, que é idolatria?

“Fazei morrer a natureza terrena: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus, e ganância, que é idolatria” (Cl. 3:5).

Desmurget ainda afirmou que esta “orgia digital” causa diminuição da qualidade e quantidade das relações intrafamiliares, essenciais para o desenvolvimento da linguagem e do emocional; diminuição do tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (lição de casa, música, arte, leitura etc.); perturbação do sono; distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; e o sedentarismo excessivo que prejudica o desenvolvimento corporal e a maturação cerebral.

Quando li isso, quis pinçar item a item, entretanto, vi que podíamos refletir apenas, a priori, sobre o conjunto da Criação. Deus criou a família, e o ambiente de lar, diga-se de passagem. Deus criou as nossas emoções e as capacidades de comunicação. Deus criou todas as coisas, e junto delas a nossa capacidade de replicar tudo, pelas artes e pela cultura. Deus criou a noite e deseja que tenhamos um bom sono. Deus criou o nosso corpo com capacidades “elásticas” e adaptáveis de movimentação. Deus criou a nossa mente a fim de desenvolvermos uma cosmovisão o mais ampla possível.

O pecado vem para destruir toda criação, e Jesus vem para restaurá-la. A “orgia digital” serve a quem? Depende muito de como usamos, e o “como” nesta matéria tem a ver com o “quanto” também.

Falamos dos perigos da “orgia digital”, e não dos benefícios que, com bom uso, podem produzir. Aliás, a virtude do equilíbrio não é apenas elucubrações aristotélicas. A virtude do equilíbrio está intimamente relacionada com o “fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão, e domínio próprio” (Gl. 5:22-23).

Então, qual a sugestão do tempo de uso, baseada nas pesquisas científicas, já que a média atual daria 30 anos letivos em frente das telas, ou 16 anos trabalhando em tempo integral, antes de completarem 18 anos?

A sugestão de Desmurget é chocante: nada de tela até os 6 anos de idade, e não mais do que 30 a 60 minutos por dia, depois desta idade, e aos finais de semana 2 horas.

Qual a pergunta que não quer calar?

O que faremos com os nossos filhos, no restante do tempo?

A solução não é simplesmente a proibição cega. E nem, simplesmente, mensurar a qualidade do que estão a ver. A solução é diminuir o tempo de tela e aumentar as opções saudáveis, e permitir até algum ócio, pois pode ser ambiente fértil para o desenvolvimento da criança.

Teremos mais trabalho, precisaremos usar nossa criatividade, e será necessário dedicar mais tempo com elas. Tempo de conversa, de música, tempo para sorrir, para contar histórias, tempo de caminhada, tempo de esportes, de passeio, de leitura em conjunto etc. Parece que tudo isso lembra-nos o discipulado.

Há um problema ainda maior. A problemática que nos ameaça de nada mudar é que, antes de limitarmos o acesso deles, teremos de limitar o nosso. Nós, pais e mães, teremos de diminuir, drasticamente, nosso tempo na frente das telas.

Estamos bem dispostos a este desafio? Ou vamos dar as mãos aos nossos filhos, num estilo de vida pobre, que, na linguagem de Desmurget, é “um mundo triste, entretido em sua servidão”.

E ainda, ele cita o sociólogo Neil Postman para dizer que eles vão se divertir até a morte.

Que tipo de vida – ou morte – queremos para os nossos tão queridos filhos?

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Vacilius Lima, missionário em Portugal. Instagram @vacilius.lima
Conheça o ministério de Vacilius e Mara Lima: sepal.org.br/missionarios