O dilema de “saber o que pregar” durante esse tempo de pandemia parece ter atingido em cheio os pastores de nossas igrejas. Basta olhar para as redes sociais e vamos constatar esse fato. Inúmeras “lives” já aconteceram ao redor do mundo tratando desse tema. O mais intrigante de tudo isso é que aqueles que deveriam dar as orientações para o povo que pastoreiam encontram-se sem saber muito bem o que fazer e o que falar nesse momento.

Antes de tudo, precisamos descobrir os motivos que têm levado os pregadores a se sentirem “incapacitados” a compartilharem com seus ouvintes sobre o terrível momento em que estamos vivendo. Não basta simplesmente informar rapidamente a esses pregadores que eles precisam falar sobre a esperança ou como enfrentar o medo. Isso já tem sido feito e parece que os sermões sobre esses tópicos já se esgotaram.

Há um bom tempo nos tornamos um povo, chamado evangélico, que tem abraçado várias teologias, especialmente aquelas que levam aos ouvintes uma palavra que agrade seus ouvidos e não os leve a se confrontar com situações complicadas.

Portanto, pregar sobre a cruz tornou-se algo impensável para muitos. Falar sobre as reais possibilidades de oposição ou de passar por algo semelhante ao que Jesus vivenciou, também isso deve ficar ao largo das mensagens. As enfermidades do corpo humano, sejam elas físicas ou emocionais, também foram abolidas, em grande medida, dos nossos púlpitos. O que restou foram as conhecidas mensagens de que o cristão que anda perto do Pai está imune a tudo isso. Basta declarar a vitória sobre essas situações complicadas que tudo estará resolvido. O problema é que a pandemia gritou mais alto do que todos esses pregadores que alardeiam que tudo estará bem e que nada poderá nos atingir.

Tudo isso nos leva a refletir sobre quem somos e o que pregamos. Sabemos que, em Cristo, “somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou” (Rom.8:37) e o Deus que cremos e servimos é poderoso para “fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós.” (Ef. 3:20). Essas são afirmações inquestionáveis, verdadeiras e irrefutáveis. Mas isso é tudo o que a Palavra nos diz? Certamente, não.

Sabemos que a melhor hermenêutica é aquela que permite que a Palavra de Deus seja interpretada por ela mesma. Nem sempre isso tem acontecido. Por vezes, somos levados a pregar um texto que pode levar nosso ouvinte a ficar extremamente feliz por ouvir que o Deus que ele crê é um Deus de milagres. Por outro lado, também existem os pregadores do infortúnio que enfatizam o alto preço daquele que fez a opção de andar com Jesus. A esses, os pregadores colocam peso e até mesmo culpa, muitas vezes. Esse é o resultado de não pregarmos a Palavra de Deus em sua totalidade.

Mais do que nunca há uma necessidade premente de voltarmos a pregar o evangelho de Cristo. Muitos podem dizer que estão falando a respeito de Jesus. Mas a qual Jesus estão se referindo? Uma pesquisa feita entre jovens cristãos nos Estados Unidos – que frequentavam igrejas conhecidas por muitos e ouviam as mensagens a cada domingo – chegou à seguinte conclusão: por que se fala de um Jesus diferente em cada uma dessas igrejas? Por que ouvimos mensagens tão distintas sobre o mesmo Jesus?

Esse fato pode nos ajudar a entender melhor o grande problema que estamos enfrentando hoje, diante da pandemia. Além de não permitirmos que a Palavra seja compreendida por ela mesma, há sinais de que falamos e pregamos sobre Jesus, mas a qual Jesus estamos nos referindo?

Hoje, existem movimentos ao redor do mundo, que estão buscando novamente conhecer a natureza e a obra de Jesus. Aquilo que aprendemos no seminário e que se chama Cristologia. Um retorno ao Jesus que afirmou que “as portas do inferno não prevaleceriam sobre a igreja” (Mat. 16:18).

Isso poderia parecer impensável algum tempo atrás. Como retornar ao estudo da pessoa de Jesus, se já somos cristãos? A esse caminho que já conhecemos construímos algumas outras estradas vicinais que nos afastaram do caminho daquele que é o Caminho. E isso pode ser comprovado pelo momento em que vivemos, quando parece que ficamos impotentes diante do desafio de saber o que pregar no próximo domingo, em nossas igrejas.

Há um texto escrito por Paulo que retrata muito bem o que precisamos ter em nossas mentes e corações, diante do que estamos passando nesses dias. Escrevendo à igreja em Roma, ele afirma: “Sabemos que Deus age em todas as coisas, para o bem daqueles que o amam, daqueles que foram chamados de acordo com o seu propósito.” (Rm. 8:28).

Repleto das verdades do evangelho de Jesus, Paulo podia pregar para aqueles cristãos que o Deus Eterno está vivo e agindo em todas as coisas para o nosso bem. Perceba que esse Deus que se revelou em Cristo age em todas as coisas. Portanto, ele está agindo no meio de toda essa pandemia, mesmo que isso possa parecer impensável.

Minha oração é que você, como pastor e pregador, seja capacitado pelo Espírito Santo a falar sempre de toda a verdade revelada nas Escrituras. Fazendo isso você certamente estará abençoando o seu rebanho diante desse momento extremamente difícil que estamos passando.


Por Oswaldo Prado | Missionário da Sepal e atualmente serve na equipe de Londrina, PR