“Olhamos para uma realidade que se desmancha diante de nós”
Gostaria de começar este artigo com a citação que fiz de John Bunyan no artigo passado:
“Deus espalhou flores do seu jardim no caminho todo, desde a porta do inferno, onde você estava, até a porta do céu, aonde você vai. Veja como as promessas, convites, chamadas e encorajamentos, como lírios, estão ao seu redor! Cuide para não pisá-las debaixo de seus pés”.
A beleza da natureza
Em meio ao ufa-ufa dos cansados cuidados do homem egoísta e sempre inquieto pelo dia de amanhã, Cristo chama a atenção de seus discípulos para a serena quietude e beleza da natureza ao seu redor. No sermão da montanha, nos faz a seguinte recomendação: “Considerai como crescem os lírios do campo”. Tanto Cristo como Bunyan estão usando os lírios como pedagogia para a nossa trajetória de fé. Eles servem como sinal que podemos descansar em Deus.
Diariamente somos pressionados por uma agenda lotada, um orçamento elástico e a busca de realizações que vão nos desumanizando, tornando-nos cada vez mais insatisfeitos à medida que vamos construindo algo que não tem em si só a plenitude de nos realizar.
Olhamos para uma realidade que se desmancha diante de nós, um mundo em estado contínuo de decomposição onde o amor se esfria como resultado da iniquidade que nos consome, uma realidade de “Nardonis” que lançam seus filhos à morte sem expressar o mínimo de arrependimento, que nos sugere que a esperança de ver o quadro sendo mudado é viver sob os fundamentos desumanos, truculentos e brutais, como os apresentados pelo filme Tropa de Elite.
“De fato, somente aquele que vê a existência com o olhar proposto por Jesus, é que consegue ver as teias de maldade e de controle que, invisivelmente, espalham-se por toda a humanidade, gerando como resultado essa coisa horrível que nós chamamos de “o mundo”.
A beleza do Evangelho
É neste mundo que as sementes do evangelho são lançadas, nos convidando a olhar para a graça dos lírios e a graça nos lírios. Toda a sua beleza é resultado de uma ação pessoal do Eterno, bem como sua permanência na natureza é fruto de algo que não partiu do lírio, é algo além dele. Isso se chama graça! É assim que a vida deve ser encarada. Toda a beleza que existe em um mundo caído é resultado da ação direta de Deus, ao mesmo tempo, o que ainda nos faz permanecer existindo não foi por nós produzido, isso é resultado da graça em nossa existência nos conduzindo a vida.
A igreja deve ser a comunidade daqueles que o tempo todo estão considerando os lírios, pois considerar os lírios é entender da graça. E só pode entender da graça aquele que se considera pecador. A graça que nos permitiu existir, que nos encontrou, nos acolheu, nos transformou, a graça que nos pede para dizer ao mundo, o qual está desconectado do criador dos lírios, “considerai os lírios”.
Considerar os lírios é entender que todas as ações bondosas e construtivas não são produções unicamente humanas. Todas foram potencializadas pela graça e que na realidade são ações amorososas que começaram em Deus: “Com amor eterno nos amou e com amável benignidade tem nos atraído”.