Texto de Sebastião Junior
“Saúdam-te Epafras, prisioneiro comigo, em Cristo Jesus, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores”. (Filemom v.23;24)
A nossa jornada de fé só é possível porque Deus nos reconciliou consigo através de Cristo, e, como resultado disso, estamos continuamente nos reconciliando uns com os outros pelo caminho. Reconciliar com alguém tem como significado restituir a paz ou as boas relações perdidas. Traz a ideia de transformar a inimizade em afeto.
Paulo esta escrevendo a epístola a Filemom perto do fim do seu primeiro aprisionamento em Roma, provavelmente no ano 62 d.C. Incrivelmente, depois de algumas décadas daquele fato determinante na relação entre Barnabé e Paulo em (Atos 15:39), onde houve “tal desavença”, o nome do rejeitado jovem aparece, sendo tratado de forma carinhosa, considerado por Paulo como um dos seus “cooperadores”.
Olhando para a trajetória do jovem vocacionado que não correspondeu às expectativas, diante dos primeiros desafios ministeriais, não teve apoio de parte da equipe ministerial, porém, mesmo assim, decidiu por um segundo desafio. Percebemos aqui uma das marcas em sua jornada ministerial, à humildade para reaprender. Fez o caminho de volta, reestabeleceu as relações e passou a ser considerado como alguém especial por aquele que não desejou tê-lo em uma de suas viagens missionárias.
A palavra humildade deveria ser algo comum entre jovens líderes, sua prática deveria ser algo espontâneo, porém, não tem sido essa a nossa realidade. Uma geração de líderes narcisistas tem influenciado e produzido a mesma doença na consciência de outra geração. Líderes que mascaram suas falhas, orgulhosos, vaidosos, amantes de si mesmos, escondendo tudo isso atrás dos seus títulos, posições, amam suas fotos estampadas por todos os cantos, não resistem a tentação de uma câmara para algum programa de TV, ou apenas para o seu pequeno canal em um website, gente encantada pela bajulação tola que o ministério proporciona.
Richard Foster em seu livro, Dinheiro, Sexo e Poder, diz: “O poder é insidioso quando está ligado ao orgulho. Entre as pessoas mais perigosas em nossa cultura saturada pela mídia, estão os líderes que acreditam na imagem de si mesmos que oferecem à imprensa. Lembro-me de ter sido homenageado certa vez durante uma grande conferência. Só podia ficar 24 horas, devido compromissos familiares. Esse tempo foi cheio de almoços especiais, festas autógrafos e entrevistas a imprensa. Ao fim daquele tempo, comentei com minha esposa: Temos de sair daqui. Estou começando a acreditar em todas essas coisas que estão dizendo a meu respeito”.
Sem dúvida precisamos de líderes nesta geração mais parecidos com Jesus, com coração quebrantado e contrito, com consciência do seu significado diante do ministério. Você deve se questionar seriamente. Precisa ser honesto, tanto para enxergar sua indignidade quanto para reaver o seu senso de valor diante de Deus.
Não esqueça da agonia de Martinho Lutero. A profunda dor interior e o autoexame o levou a descobrir que o cristão é justificado pela fé em Cristo e não pelas obras. Cada pessoa necessita adquirir um conhecimento do seu eu, da sua incapacidade, imperfeição, para que possa se entregar ao serviço a Deus e a seu próximo sem pretensões escusas. Toda essa introspecção tem como finalidade nos lançar para os braços amorosos e seguros de Jesus, nos permitido aprender com Ele a ser manso e humilde de coração.
Ao analisar este trecho da história de João Marcos, retiro algumas lições práticas para você que humildemente deseja reaprender:
- Reconcilie-se com o seu passado. Faça o caminho de volta, reconheça seus erros, perdoe e seja perdoado;
- Avalie suas “brigas”. Uma vez conversando com querido pastor Ary Velloso, ele me disse: “Junior o pastor precisa escolher suas brigas”. Gaste suas energias em algo que realmente tem valor.
- Restaure seus relacionamentos. Acho significativo essa reaproximação de Paulo e Marcos, sem dúvida o Evangelho nos reconcilia com Deus e uns com os outros. O orgulho divide os homens, a humildade une-os.
FOSTER, Richard; dinheiro, sexo e poder; Ed. Mundo Cristão. São Paulo. 2011.