Texto de Sebastião Júnior

Este artigo faz parte de uma série de artigos que estou escrevendo sobre João Marcos, tirando lições práticas para vida ministerial e aplicando-as na vida de um jovem líder. No artigo passado, vimos que é necessário ter um líder experiente que acredite em um líder mais jovem, ali vimos duas pessoas chaves na trajetória de João Marcos, seu primo Barnabé, e seu pastor Pedro, além de uma importante influência de sua mãe.

Agora, olhemos para o texto de Atos 13:13: “E, navegando de Pafos, Paulo e seus companheiros dirigiram-se a Perge da Panfília. João, porém, apartando-se deles, voltou para Jerusalém”. O início do capítulo 13 marca um importante momento dos projetos e planos para a execução da primeira viagem missionária. As pessoas que iriam compor esse grupo seleto seriam escolhidas de forma criteriosa, tudo acontecendo com muita piedade e devoção. No verso 5, Paulo esta nas Sinagogas, oferecendo primeiramente o Evangelho aos judeus. João Marcos era o seu “auxiliar”, uma espécie de catequista autorizado, por ter sido testemunha ocular dos acontecimentos históricos da vida de Cristo, de acordo com Lucas 1:2.

Já na viagem tudo está caminhando de forma normal, a viagem está avançando, sinais, conversões a Cristo, até que no verso 13, de forma inexplicável, João Marcos desiste da viagem e volta para Jerusalém. Baseado nisso quero levar você a pensar no ponto central desse artigo: “Todo jovem líder tem o direito de fracassar”. Não é simples aceitar sobre si uma afirmação dessa, ainda mais quando tudo a sua volta lhe diz o contrário. Uma das marcas doentias que está sobre a igreja e, automaticamente, sobre os ombros do líder é o triunfalismo, uma busca desenfreada pelo sucesso, pelos números, pelo desempenho. O bom líder é aquele que tem algo extraordinário para apresentar sobre si mesmo. Diante disso, nos parece impossível que alguém que “volta para Jerusalém”seja útil para o ministério, o fracasso não serve de aprendizado, o fracasso vira o signo na jornada, não permitindo que muita gente preciosa recomece sua caminhada.

Quando não existe um ambiente saudável para líderes chorarem as suas dores, contarem seus fracassos e um ambiente seguro de confissão, uma história cheia de máscaras vem sobre nós, que com o tempo se torna insuportável.

Acredito que fracassados podem restaurar quem fracassou, digo isso por que em Jerusalém, João Marcos se encontrará com o seu pastor Pedro. Lembra do que ele disse em João 21:3 “Vou pescar”, desistindo de si mesmo diante do seu fracasso. Sem dúvida, teve bons papos sobre as lições do fracasso entre Pedro e o jovem Marcos.

Vou transcrever o que ouvi em 1999, numa mensagem pregada por Ricardo Gondim, sobre as “Bem-aventuranças de um derrotado”:

Bem-aventuradas as minhas derrotas, porque elas fizeram com que encarasse a realidade quando só queria viver fantasias…
Bem-aventuradas as minhas perdas, porque elas me tiraram da embriaguez dos elogios que me encheram de narcisismo…
Bem-aventuradas as minhas dores, porque elas me mostraram áreas ocultas, cegadas por minha própria mentira, que agora posso corrigir…
Bem-aventuradas as minhas derrocadas, porque elas removeram o verniz que não me deixavam ter compaixão de quem sofre…
Bem-aventurados os meus reveses, eles não me deixaram soberbo, um passo antes da queda…
Bem-aventurados os meus percalços, eles me tornaram consciente de que preciso de amigos, de misericórdia e da graça…!!!”

Termino esse artigo com quatro grandes lições:

  1. Cristo é tolerante com a nossa incapacidade de acertar, isso é graça.
  2. As misericórdias do Senhor sempre nos oferecem a chance de recomeçar a cada novo dia.
  3. Se afaste das pessoas que não respeitam sua humanidade e não entendem o seu fracasso, não viva para impressionar ou satisfazer esse tipo de gente.
  4. Aquele que se tornou fracasso, em nosso lugar, nos restaurará do nosso fracasso.

Deus abençoe quem teve a coragem de assumir seus fracassos!