Por Phelipe Reis

A pandemia não deve nos surpreender. Ela não será a última. Faz parte das dores de parto escatológicas, reveladas por Jesus nos evangelhos (Mateus 24. Lucas 21; Marcos 13). Neste cenário, líderes e pastores devem ensinar a igreja a ter equilíbrio, caminhando com fé e prudência. Além disso, é preciso discernir a pandemia como uma época de oportunidade – o Kairós de Deus.

As palavras acima resumem a introdução de Edmund Chan, em sua palestra no Encontro Sepal 2020. Baseado em Miquéias 6.8, ele abordou princípios que podem ser aplicados à liderança e ao discipulado, nestes tempos de pandemia.

Chan explica que, determinado por Deus, o Kairós é uma janela estratégica, em um tempo designado, com oportunidades para uma colheita divina. Para ele, a pandemia pode ser potencialmente o melhor momento da igreja. É um momento decisivo para o arrependimento e para renovar o compromisso com o evangelho de Jesus Cristo.

A questão que se coloca não é o que podemos fazer, mas sim o que precisamos fazer. Alguns líderes querem chegar a resultados rápidos, mas os melhores líderes aprendem a identificar o que realmente importa, olhando para o resultado final.

Em Miqueias 6.8, há três princípios cuja prática aumenta a eficácia do discipulado e a capacidade de liderança.

1.

Não confunda as marcas de sucesso no mundo com a medida de sucesso de Deus

Os padrões de Deus estão em Miqueias 6.8. O primeiro é praticar a justiça; em outras palavras significa “viver de modo a fazer o que é correto diante de Deus, com os nossos semelhantes”. O conceito de justiça carrega duas ideias inerentes: o que é legalmente adquirido e o que é partilhado por direito. Em termos do que é adquirido estão o que é adquirido legalmente e o que não é; em relação ao que é compartilhado, há uma referência especial à justiça para com os pobres, os marginalizados e os desfavorecidos. Neste sentido, praticar a justiça tem a ver com não ter ganhos injustos e não reter o que possui enquanto os outros precisam. Para o trabalho prático, a justiça pode ser resumida em três regras: se não é seu, não aceite ou pegue; se não é verdade, não fale; se não está certo, não faça.

Caminhar na prática da justiça é um desafio constante, pois somos pecadores e falhamos mesmo quando nos esforçamos para fazer o nosso melhor. É preciso ter uma postura diária de confissão de pecados e arrependimento, bem como o entendimento de que precisamos uns dos outros. O discipulado, a vida cristã, a liderança não é uma jornada solitária. Precisamos uns dos ouros. Temos que caminhar juntos, para que a sua força cubra a minha fraqueza e a minha força cubra a sua fraqueza, e ao caminharmos juntos para manter a justiça em nossa vida.

2.

Não confunda defesa com ação

Quando a bíblia diz “ame a bondade” ou “ame a misericórdia”, a ideia está relacionada com compaixão, que não pode ser confundida com preocupação. Uma coisa é “estar preocupado com os fracos, doentes e pobres”, outra coisa é ter, dentro de si, compaixão por eles. Defesa movida por preocupação é diferente de ação movida por compaixão. A igreja tem substituído a ação por mera defesa. É fácil subir no púlpito e falar que temos que evangelizar, mas há poucos que realmente se engajam na evangelização pessoal. A liderança não é falar ou defender uma causa, liderança é agir movido por compaixão.

3.

Não confunda alcance com avivamento

Influência, alcance e extensão do ministério, tudo isto faz parte do crescimento, mas não podem ser confundidos com avivamento. Quando a Bíblia fala em “caminhar humildemente com o Senhor”, a ideia é de dependência de Deus. O crescimento, o alcance, o progresso, geram orgulho no coração, pois podem ser produzidos com a tecnologia, por exemplo. Já o avivamento gera humildade, pois ninguém pode produzir o avivamento, só Deus.

O propósito de Deus para o líder não é que ele faça a diferença no mundo. O que Deus deseja é usar o líder para transformar o mundo. Para isso, é preciso humildade, pois deve-se contar com os outros e depender de Deus. Ou seja, transformar o mundo é um avivamento que só Deus pode produzir, usando pessoas que contam com a ajuda de outras – isso gera humildade.

A sombra da cruz

Para praticar a justiça, agir com compaixão e caminhar humildemente com Deus é preciso viver sob a sombra da cruz de Jesus Cristo, pois só na cruz de Cristo é possível encontrar a justiça, a misericórdia e a atitude de um Deus que esvaziou, se humilhou e morreu por nós.

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* Texto baseado na palestra de Edmund Chan, no Encontro Sepal 2020.
** Phelipe Reis é jornalista e colaborador de conteúdo para a Sepal.