O Brasil é um celeiro missionário. Esta afirmativa já foi muito propagada há alguns anos entre missionários e entusiastas do movimento missionário. Por outro lado, há algum tempo têm se questionado se a igreja brasileira está desenvolvendo plenamente a sua capacidade de envio de missionários transculturais. Para alguns, como veremos mais adiante, o envio tem sido menor do que poderia. Diante disso, se faz necessário identificar as principais razões que impedem a igreja evangélica brasileira de enviar mais missionários.

Uma pesquisa realizada em novembro de 2012 com cerca de 40 líderes evangélicos, reunidos no Seminário Servo de Cristo, buscou responder a este questionamento. A pesquisa foi um esforço conjunto da Sepal, Comibam, Centro de Reflexão Missiológica Martureo, Associação de Missões Transculturais Brasileira (AMTB) e Movimento Lausanne. As respostas foram divididas em grupos e no último grupo de razões foi mencionada a insuficiência de mobilizadores de missões.

Marcos Amado comenta a pesquisa e explica que o crescimento econômico no Brasil abriu portas de emprego para os jovens e deixou a juventude cristã “deslumbrada” com as oportunidades. Outro problema, segundo Amado, seria o fato de que muitas grandes igrejas evangélicas adotaram o discurso da teologia e do evangelho do bem-estar, que exclui a possibilidade do cristão, na vontade de Deus, sofrer e pagar um preço. “Quando isso acontece, tira missões do horizonte do cristão, porque missões é sofrimento e compromisso”, conclui Marcos Amado.

Diante disso, os líderes que participaram da pesquisa concluíram, entre outras coisas, que a multiplicação de mobilizadores é um passo fundamental para que a igreja brasileira envie mais missionários transculturais, para alcançar regiões e povos que ainda não ouviram falar do evangelho.

A importância da mobilização missionária

Jojie Wong, Facilitadora Internacional para Treinamento de Mobilização da OMF Internacional, falando sobre a importância da mobilização para o movimento missionário, explica que o papel do mobilizador é caminhar com a igreja e os indivíduos em direção ao envolvimento missionário. Ela descreve:

“Em meus anos de jornada com indivíduos e igrejas, tenho testemunhado missionários encerrando relacionamentos com suas igrejas, sendo enviados para casa por motivos tristemente evitáveis, como falta de compromisso missionário, fracasso moral, falta de apoio espiritual e financeiro e imaturidade espiritual. Uma boa mobilização deve envolver preparação pré-campo – ajudando os candidatos a missionários em sua jornada espiritual, educando-os pacientemente e às igrejas locais sobre como fazer parceria no envio e manutenção do trabalho missionário.”

Jojie Wong pontua que o ministério de mobilização permanece relativamente subdesenvolvido em comparação com os numerosos treinamentos para equipar obreiros de linha de frente, como plantadores de igrejas, evangelistas transculturais ou tradutores da Bíblia. Ela destaca que “ainda há um segmento da população mundial que permanece não alcançado, com poucos trabalhadores no campo da colheita. Isso significa que ainda existem muitas igrejas por aí que precisam ser mobilizadas.”

O comentário de Wong está de acordo com os resultados de uma pesquisa realizada em 2017 pelo Departamento de Pesquisas da Associação de Missões Transculturais Brasileira (AMTB). Os dados mostram que o ministério de mobilização está na quinta colocação entre os tipos de atividades exercidas pelos missionários que foram entrevistados e representa a terceira maior dificuldade das organizações missionárias, depois da falta de missionários e da área financeira.

O amadurecimento da mobilização para o Brasil se tornar um celeiro missionário

A pesquisa feita pela AMTB, citada anteriormente, aponta para um movimento missionário brasileiro crescente e que parece se renovar de forma equilibrada, porém o total de missionários ainda é expressivamente menor do que o potencial da Igreja Brasileira. Há grande necessidade de mais ampla mobilização. Do contrário, a pouca mobilização missionária, somada à crise financeira, dificuldades com vistos e viagens, pode resultar na redução na capacidade de envio de missionários pelas igrejas locais.

Conversamos sobre o assunto com Rodrigo Gomes, Diretor executivo da Missão BASE e missionário SEPAL. Ele afirma que a mobilização missionária é importante porque ajuda a igreja a se manter conectada, com o coração queimando pela missão de Deus e pela tarefa inacabada – os mais de sete mil povos não alcançados. Gomes avalia que houve um crescimento nos últimos anos, com a consolidação do Movimento Perspectivas, por exemplo, que já completou dez anos no Brasil e inspirou o surgimento de várias organizações, que atuam especificamente com mobilização missionária. Ele descreve sua percepção acerca do amadurecimento do movimento de mobilização missionária no Brasil:

“Eu vejo um amadurecimento da mobilização missionária no Brasil, de forma mais abrangente, com pessoas dentro das igrejas com a visão global daquilo que Deus está fazendo. Pessoas capacitadas, que fomentam, instruem e mentoreiam a igreja, para que ela desenvolva todo o seu potencial no envolvimento da grande comissão. Quanto mais pessoas tivermos com essa mentalidade dentro das nossas igrejas, mais eficiente seremos no envio de missionários aos povos não alcançados. Já avançamos bastante, mas ainda temos um grande desafio, para que a gente chegue ao modelo que a gente sonha: ver o Brasil como um celeiro de missionários”.

Depoimento da Família Prado

O casal missionário, Oswaldo e Sirley Prado, atua na Sepal há mais de vinte anos e tem se dedicado à mobilização missionária. Num breve relato, Oswaldo conta: “Lembro muito bem do dia em que, como de costume, fui me encontrar com alguns dos missionários da Sepal. Eu estava por terminar meu pastorado de 20 anos e buscava o Senhor para saber onde poderia continuar lhe servindo. Aquela visita ao escritório da Sepal fazia parte do meu processo de discipulado, já por muitos anos. Aquele lugar para mim era quase ‘sagrado’, pois ali eu podia aprender com missionários experientes que estavam dispostos a servir. E servir no verdadeiro sentido da palavra. Na verdade, eles se doavam para ajudar muitos pastores, seminaristas e líderes de igrejas. Algo aconteceu nesse dia. Assim que eu estava para voltar para minha casa, o então diretor da Sepal chamou-me em sua sala e me fez uma pergunta direta e clara: ‘Você gostaria de fazer parte da Sepal, como um de nossos missionários?’ Naquele momento, fiquei meio paralisado tal a força que aquela pergunta provocou em mim. Eu estava sendo convidado para fazer parte de um time de missionários que estavam causando um impacto enorme em todo o Brasil? Depois de alguns meses, eu e minha esposa estávamos sendo recebidos como missionários da Sepal, iniciando assim uma longa jornada que já dura mais de 20 anos”.

Como se envolver com a mobilização missionária da Sepal

Como agência missionária, em 58 anos de história a Sepal já enviou dezenas de missionários. Atualmente, conta com 55 missionários nacionais e 42 missionários transculturais, servindo em outros países. A Sepal deseja ampliar sua participação na missão global e expandir o seu alcance para vários cantos do Brasil e do mundo, com o objetivo de ver igrejas saudáveis servindo juntas para alcançar as nações.

Sebastião Junior, Coordenador da área de Mobilização Missionária da Sepal, explica que jovens e casais que já tenham experiências de ministério em suas igrejas locais e desejem multiplicar essa influência na vida de muitos outros, podem atuar como mobilizadores de missões. Veja o convite de Junior:

“É provável que você seja uma dessas pessoas. Ou você, como pastor ou líder de missões, conheça alguém que esteja buscando servir como missionário para servir aos pastores e líderes de nossas igrejas. Os pastores e líderes estão mais do nunca precisando de pessoas que andem ao seu lado. A grande maioria deles tem andado sozinha e sem alguém que lhes dê apoio. Ore ao Senhor para Ele envie trabalhadores para a sua seara. Pode ser que você seja um deles”.


Por Phelipe Reis | Jornalista e colaborador de conteúdo para o site Sepal.

Leia mais:

Por que os mobilizadores de missões precisam de treinamento básico
https://lausanne.org/content/lga/2021-05/why-missions-mobilizers-need-foundational-training

Por que a igreja brasileira não envia mais missionários? [Martureo]
https://www.martureo.com.br/por-que-a-igreja-brasileira-nao-envia-mais-missionarios/

Pesquisa da AMTB
http://www.amtb.org.br/wp-content/uploads/2020/04/Forc%CC%A7a-Missiona%CC%81ria-Brasileira-Completo.pdf

Consciência e Mobilização Missionária [Podcast]
https://sepal.org.br/podcast-sepal-007-consciencia-e-mobilizacao-missionaria/