Diante das preocupantes estatísticas, pastores e líderes precisam tocar no assunto e despertar a reflexão acerca das formas de combater esse mal

Por Cleiton Oliveira

O suicídio é uma triste realidade que diz respeito a todos. Provavelmente, você já soube de algum conhecido, parente ou amigo que deu cabo da própria vida. A cada dia, novos casos de suicídio entram para as estatísticas, chamando a atenção de especialistas e autoridades, deixando-nos com uma sensação de estarrecimento e preocupação.

Os números são alarmantes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que mais de 800 mil pessoas se suicidam por ano. Somente no Brasil, calcula-se que a cada 45 segundos uma pessoa se mata. Depois dos acidentes de trânsito, o suicídio é a segunda causa de mortes entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. A maior parte dos óbitos acontece entre os homens.

Setembro Amarelo

Para gerar reflexão em torno do assunto, todos os anos empresas e entidades diversas promovem o Setembro Amarelo, movimento impulsionado mundialmente pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP) e iniciado no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Em 2019, com o slogan “Falar é a melhor solução”, a iniciativa amplamente divulgada em todo o país incentiva o desabafo e a busca de ajuda como formas de combater a tendência ao autoextermínio. Ainda de acordo com a OMS, cerca 90% dos casos podem ser prevenidos, desde que atendidos adequadamente.

As causas que levam uma pessoa a tirar a própria vida podem ser várias, desde dificuldades para lidar com dilemas do cotidiano, intolerância ao sofrimento e problemas de ordem conjugal, financeiras ou de relacionamento interpessoal até transtornos mentais, como a depressão, a esquizofrenia e a dependência química. No entanto, independentemente do caso, sempre haverá a possibilidade de superação. Para isso, conversar com alguém e buscar socorro é fundamental.

Um assunto que deve ser abordado pela igreja

De acordo com Marcos Quaresma, missionário da Sepal, psicólogo em formação, mestre em aconselhamento pastoral e especialista em psicopedagogia, o suicídio é um assunto que não pode passar despercebido pela igreja. Conforme aponta, a Bíblia relata casos de autoextermínio tanto no AT quanto no NT, evidenciando que o suicídio pode acontecer, inclusive, com pessoas que estão próximas ao Senhor. A questão, porém, tem de ser abordada com precaução, evitando o sensacionalismo que pode provocar o efeito contrário.

Para Quaresma, que também é coautor do livro “Uma família saudável”, capelão empresarial e membro do Eirene do Brasil, associação internacional que atua em favor do desenvolvimento, fortalecimento e defesa da saúde integral das famílias, a igreja deve estar atenta à sua postura diante do suicídio, não julgar a pessoa que se matou e não fazer previsões sobre seu destino eterno. Outro ponto importante é oferecer assistência à família da vítima, estendendo-lhe a mão para superar o trauma e a dor.

Além disso, o missionário elucida alguns comportamentos comumente vistos em quem tem a intenção de tirar a própria vida, como a tendência ao isolamento, a manifestação do desejo de morrer, a desilusão com a vida ou a compra de uma arma ou uma corda. Parentes e amigos devem estar atentos diante de qualquer sinal de alerta.

Suicídio de pastores

Quaresma tem se debruçado no estudo acerca do suicídio de pastores no Brasil. Recentemente, ele foi um dos integrantes do time de estudiosos que escreveram o livro “Quando a dor se torna insuportável: Reflexões sobre por que as pessoas se suicidam”, lançado pela editora Sinodal. O missionário também escreveu o artigo “Suicídio de pastores e líderes: uma reflexão necessária”, publicado no site da Sepal, o qual teve grande repercussão em âmbito nacional.

Conforme compartilha, informações divulgadas pelo Instituto Schaeffer dizem que 70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afetou negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo. Os dados altamente preocupantes mostram a urgente necessidade da criação de medidas devidamente desenhadas para esse público.

O que fazer?

Pensamentos suicidas devem ser tratados adequadamente. Por isso, segundo sugere Quaresma, é importante que a pessoa com tendência suicida busque ajuda imediata para sanar a sua dor: seja entre os parentes, amigos, líderes religiosos, psicólogos ou psiquiatras. “O suicídio possui três passos: o pensamento ou ideação suicida, o planejamento e a tentativa/execução. Quando a pessoa busca apoio em Deus e nas pessoas para curar a sua aflição, pode evitar os passos seguintes” comenta.

Assim, amar a vida e desfrutar das coisas boas e dos momentos prazerosos, especialmente ajudando outras pessoas, podem ser excelentes atitudes que trarão mais significado ao dia a dia. “A vida possui altos e baixos, e isso é inevitável. Entretanto, é importante possuir esperança de dias melhores. Eles poderão vir se tirarmos os olhos da solidão e percebermos que ao nosso redor existe uma rede de pessoas dispostas a nos ajudar. Portanto, acredite!”, afirma Quaresma.

Junte-se ao movimento pela vida e pela esperança!

A Sepal apoia o Setembro Amarelo. Se você está sofrendo por algum motivo e tem pensamentos suicidas, queremos incentivá-lo a buscar assistência. Converse com alguém de confiança, exponha o que está sentindo. Não se cale!

Caso não tenha esse tipo de atendimento em sua igreja ou não se sinta à vontade para falar com alguém da comunidade, busque os serviços do Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade que presta serviço gratuito e sigiloso via telefone (188), chat, e-mail, correspondência ou em diversos postos de atendimento. Para mais informações, acesse: cvv.org.br. •

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