A discussão sobre a submissão do gênero feminino ao masculino é um assunto antigo e polêmico, que tem causado muitas divergências no decorrer da história e provocado a separação de amigos e contribuído para separações de casais.
As maiores divergências ocorrem entre os que defendem de forma calorosa que a submissão é um princípio bíblico do qual não podemos fugir. As mulheres devem ser submissas aos maridos, e ninguém pode questionar isso. Mas outros entendem que é um aspecto cultural, que valeu para um tempo passado, no qual as mulheres não tinham qualquer formação acadêmica, espaço no mercado de trabalho nem possuíam voz e vez. Portanto, não precisamos considerar esses aspectos nos nossos dias, uma vez que as relações de gênero estão cada vez mais iguais.
Sem ter a intenção de ser a última palavra, esse artigo discorre sobre o projeto original de Deus na criação, o acidente de percurso após a criação, algumas luzes bíblicas da igualdade parceira entre homens e mulheres, figuras femininas da trindade e o alvo da redenção.
O projeto original de Deus – A primeira referência sobre família na Bíblia informa que Deus criou o homem e a mulher iguais à sua imagem e semelhança, os abençoou de forma igual e delegou ao casal a tarefa de cuidar da natureza criada (Gn 1. 26-28). O cuidado administrativo da criação foi delegado ao casal. Um homem e uma mulher que “lhe corresponda”, diante dele de igual forma (Gn 2. 18).
O acidente de percurso – Mas as coisas não ficaram exatamente como o Senhor planejou. Surgiu “uma pedra no meio do caminho”: A queda, a desobediência e seus desdobramentos (Gn 3. 6-8). Além da consequência emocional, “os olhos se abriram”; e da consequência ecológica, “a terra com cardos e abrolhos”; na área familiar nasceu a desigualdade entre o casal criado, conforme vemos em Gn 3. 16.
Aqui surgiu a diferença entre o casal que foi criado e abençoado igualmente e destinado a ser parceiro na administração do planeta.
Luzes na Bíblia sobre atuação feminina – Conquanto tenha havido a promessa da restauração futura (Gn 3. 15), até que ela aconteça, a história humana está sendo escrita basicamente por homens dominadores e mulheres subservientes, com exceções pontuais que mostram que o plano original do Senhor não se perdeu no caminho, e que mulheres não são apenas servas dos homens e mães para lhes dar filhos.
Em Jz 4. 4, Débora “liderava Israel naquela época” (NVI). Ela era casada com Lapidote, atuava como juíza e profetiza, e “os israelitas a procuravam, para que ela decidisse as suas questões” (Jz 4. 5). Em Pv 31. 10-31, lemos de uma mulher o que nem todo homem consegue acompanhar: “dá tarefas às suas servas, avalia um campo e o compra; com o que ganha planta uma vinha…” (Pv 31. 15-16). Já o profeta Joel ao falar sobre a descida do Espírito Santo foi enfático ao dizer que ele viria sobre “filhos e filhas… servos e servas…”. Profecia que se cumpriu em At 2. 17,18 “filhos e filhas… servos e servas…”, no registro do Dr. Lucas.
A Trindade em figura feminina – Esse aspecto é notório na Escritura, pois o lado feminino da trindade é enfatizado, mesmo que sutilmente, quando o Pai é comparado à águia, em Dt 32. 10-12; o próprio Jesus se compara à galinha, em Mt 23. 37; Lc 13. 34; e o Espírito desce em forma de pomba, em Lc 3. 22.
É verdade que textos como Ef 5. 22, 1 Pe 3. 1 e outros não são simples para serem entendidos nos nossos dias, tenho ciência disso. Mas, ao mesmo tempo, também entendo que não é a única referência da Bíblia sobre o assunto. Os textos estão aí para nos desafiar a refletir mais e considerar que a submissão feminina não é o único tema sobre o qual não há uma definição clara. Outros temas também incomodam o nosso pensamento, como: se Deus muda de ideia, a forma correta de batismo, a predestinação e a livre escolha do homem, e tantos outros que conhecemos e que provocam discussões acaloradas e sem fim.
Entendo que em uma sociedade na qual predominava o machismo, a mulher era totalmente dependente do marido, não possuía formação acadêmica e não tinha espaço no mercado de trabalho, portanto, precisava de cuidado e proteção especial.
Mas o alvo central dessa caminhada histórica nos aponta para a Redenção, registro feito pelo apóstolo Paulo em Gl 3. 28, quando afirma que em Cristo não há “escravo nem livre, judeu nem gentio, homem nem mulher”, ou seja, valores cristãos não permitem diferenças de classe, de raça ou gênero sexual. Perante Ele, todos são iguais, servos lavados pelo sangue do Cordeiro. Quando o Senhor nos olha, não nos distingue com um olhar de poder: quem domina e quem é submisso. Precisamos nos curar da tirania da sociedade contemporânea que estimula a competição, que defende a sobrevivência dos fortes, poderosos e dominadores, e que destina aos fracos e submissos as agonias, dores e lágrimas. Ele espera ver em nós um coração restaurado, que O ama e ama ao próximo e que defenda um mundo com mais harmonia.
Submissão feminina ou acidente de percurso? Eis a questão!