Confira os insights compartilhados por Fátima Fontes, doutora em Psicologia, em entrevista à Sepal

Por Cleiton Oliveira

As novas tecnologias são vilãs ou mocinhas? Como enxergar a dinâmica do mundo moderno e os desafios que ele traz? De que maneira devemos encarar a contemporaneidade e evitar pensamentos limitantes que não trazem bons resultados? Se você ficou curioso para saber mais sobre essas questões, vai gostar dos insights compartilhados por Fátima Fontes em entrevista concedida à Sepal.

Psicóloga clínica especializada em Psicodrama e Terapia Familiar, Fátima tem larga experiência profissional e acadêmica. Mestre em Psicologia Social e doutora em Serviço Social pela PUC/SP; doutora e pós-doutoranda em Psicologia pela USP, é membro da Igreja Batista da Liberdade (SP), membro pleno do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos e corredatora da Bíblia de Estudos Conselheira, lançada pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Entre suas atividades, dá palestras em fóruns científicos e religiosos e desenvolve trabalhos psicossociais.

Equilíbrio

De acordo com Fátima, os riscos da influência tecnológica são os mesmos de qualquer outra facilidade do cotidiano, por isso defende a ideia de que não devemos enxergar as novas tecnologias como algo negativo, o segredo está em administrá-las com equilíbrio e limites: “essas ferramentas foram desenvolvidas para o bem, pela inteligência humana. Cabe a cada um de nós — e, no caso da família, aos pais — fazer o bom uso delas. Infelizmente, isso não tem acontecido. Existem pais viciados nessas funcionalidades, que nunca se desconectam do Facebook e do Instagram! Adoeceram, mas não admitem”, diz. Conforme sinaliza a psicóloga, o uso adequado de tais recursos pode dar espaço para outras atividades importantes, como os estudos, os momentos de lazer e de conversa.

Fátima não concorda com a perspectiva adotada por muitos de que a busca por likes, views, seguidores e outras formas de suposta aprovação no universo das redes sociais tem sido o pano de fundo de uma geração ansiosa, deprimida e insegura. Conforme aponta, é possível identificar em todos os tempos históricos episódios de ansiedade, depressão e insegurança entre as pessoas. Por isso, ela não julga que a geração atual está mais exposta: “A única coisa que percebo de novo é o acesso às informações sobre essas doenças emocionais. Percebo haver uma compulsiva busca por culpados de nossas mazelas, inclusive as emocionais. Hoje culpamos as redes sociais, ontem era a televisão; na idade média, os que não eram católicos, também se demonizou a vida — tudo era ação do ‘inimigo’. Isso de culpar algo ou alguém é do ser humano. Está na hora de pararmos de culpar as situações e pessoas e refletirmos sobre nossos desequilíbrios, nossa dificuldade em ter e colocar limites”.

“Está na hora de refletirmos sobre nossos desequilíbrios,
nossa dificuldade em ter e colocar limites”

Nesse sentido, a psicóloga afirma que a contemporaneidade não é muito pior do que outro “tempo humano” e que, ciclicamente, a humanidade constrói modelos de vida e de morte para si, fato que pode ser acompanhado historicamente. “Temos de abrir a mente. Hoje é difícil da mesma forma que foi para nossos avós, tataravós e ancestrais. Não é possível parar a ampulheta do tempo, precisamos correr e aprender a sofrer pressões. Penso que criar uma ‘cultura Zen’ familiar num mundo de velocidade é uma tarefa inócua e pouco produtiva. A busca precisa ter como objetivo o equilíbrio no pensar, no fazer e no sentir”, aponta Fátima.

Reflexão

Em virtude do crescimento exponencial do acesso à informação e do consequente uso massivo das novas tecnologias, a profissional afirma que cada família deve encontrar seu próprio meio de lidar com essa realidade, evitando fórmulas prontas que não vêm de encontro à dinâmica familiar. Fátima explica que cada família tem sua cultura, seus endereçamentos e modos de funcionar. Sendo assim, para que haja funcionalidade no lar, sugere que os pais estabeleçam programas culturais e de lazer e definam o que autorizarão ou não a seus filhos.

A doutora também sinaliza que a melhor ferramenta para encontrar caminhos em meio a esse contexto é a reflexão, para que as pessoas possam ampliar suas percepções. Dessa forma, a criação de espaços reflexivos em que haja profundidade e que sejam evitados exageros e reducionismos é fundamental. Conforme elucida, muito alarde tem sido feito sobre a atualidade, é preciso desconstruir os pensamentos paralisantes e buscar o equilíbrio.

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