Por Phelipe Reis

Incerteza é uma das palavras que pode caracterizar mais adequadamente este período de pandemia e os próximos capítulos da pós-pandemia. Um vírus colocou em xeque a vaidade humana de determinar isso ou aquilo, a nossa pretensão de controlar agendas e querer ditar o amanhã. A pandemia nos paralisou sem consulta prévia. Talvez um “stop” até necessário para repensarmos e refletirmos a respeito de questões fundamentais para a vivência em sociedade e como igreja. Sem essa parada obrigatória, muito provavelmente, continuaríamos caminhando como se tudo estivesse bem, debaixo do nosso controle frágil e ilusório.

Especialistas dizem que a pandemia provocou e acelerou mudanças que, normalmente, levariam décadas para acontecer. A verdade é que este novo tempo exige um novo modo de pensar e agir. Seria também o caso de pensar em uma “nova igreja”? Jason Mandryk, da Operation World, diz: “Não há retorno ao normal, porque o que tínhamos antes, não importa o que seja, não era normal. Há aspectos de nossa maneira antiga de viver que nós simplesmente não queremos de volta! Se estávamos confortáveis com tudo exatamente como era, então provavelmente necessitemos de uma séria sondagem da alma”.

Se não podemos ou não devemos voltar ao que era antes, como proceder daqui para frente? Em muitos lugares, a diminuição e a estabilização dos números de infectados e mortos faz com que as restrições sejam flexibilizadas, o comércio comece a abrir as portas e as igrejas voltem a se reunir presencialmente para a realização de cultos. Mas como a igreja vai se adaptar a esse “novo normal”? Como as mudanças provocadas pela pandemia impactam as estratégias e a cultura da igreja?

Apesar de tantas mudanças provocadas pela pandemia, ela “não mudou a nossa compreensão de Deus, do ser humano, e da igreja local”, segundo René Breuel, missionário Sepal e pastor na igreja Hopera, em Roma, Itália. Na visão dele, a pandemia apresentou desafios e exigiu adaptações. “O nosso culto ficou mais breve e simples em suas versões online e quando voltamos a nos encontrar com restrições. Crescemos em áreas como a comunicação e doações online. Porém, a pandemia reforçou a nossa crença no poder do evangelho! Queremos ser criativos em como levá-lo às pessoas, mas Jesus é quem redime a sua criação”, comenta Breuel.

Muito temos falado sobre o luto, a dor e as perdas durante a pandemia. Por outro lado, também podemos pensar neste período como um solo fértil para criar, inovar e semear; um momento propício para tirar projetos do papel, ideias da cabeça e colocar a mão na massa; descobrir potencialidades na igreja local e iniciar trabalhos em novas frentes. Breuel conta que, “durante o lockdown, superamos as barreiras geográficas passando para a esfera virtual. Isso colocou os nossos membros locais no mesmo patamar de quem seguia a igreja de outras partes da Itália e do mundo. Nos sentimos todos no mesmo barco e isso me abriu os olhos para essa congregação geograficamente esparsa, mas espiritualmente conectada. Decidimos manter o culto online mesmo quando voltamos a nos reunir no domingo, e no momento estamos criando um portal com recursos para que pessoas possam começar e guiar grupos aonde estejam. Queremos ainda ter o foco local, mas agradecemos a Deus pela oportunidade de abençoar pessoas fora de Roma também”.

Mesmo em meio a incertezas, aos poucos as pessoas vão tentando retomar a vida, o trabalho, os estudos. E a igreja também vai tateando, buscando encontrar novos caminhos para este novo tempo. Algumas questões, como o uso de máscara e o distanciamento social, recomendações das autoridades sanitárias, estão claras para a maioria das pessoas e devem ser cumpridas por todos, e pela igreja como um testemunho de uma fé responsável e amor ao próximo.

No retorno dos cultos presenciais, os locais de reuniões devem ser preenchidos com o número adequado de pessoas, para que o receio dê lugar à segurança. Mas a comunhão deve ser transbordante de alegria e gratidão, louvor e devoção, aspectos estes indispensáveis para uma “nova igreja” em qualquer tempo e em qualquer lugar.

*Phelipe Reis é jornalista e colaborador de conteúdo para o site Sepal.